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Benfica: Roger a jato e o mago das piruetas

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: Roger a jato e o mago das piruetas
Gonçalo Flores Semedo / Futebol 365

Afinal o bom Roger Schmidt existe. Ou, aproveitando-se a época pascal, parece que ressuscitou. Aleluia! Diante do Sporting, para a Taça de Portugal, o Benfica realizou provavelmente a melhor exibição da temporada e esteve muito perto de eliminar os leões da prova. Se aconteceu há que enaltecer e congratular, se bem que a análise do contexto não possa ficar na gaveta. Não há coincidências. Não há exibições que caem do céu.

O sprint final da liga conta com sete etapas, sendo que o Sporting não tem nenhuma tendência esdrúxula para perder pontos de forma disparatada. Ainda no passado fim-de-semana, na Reboleira, o Sporting encarou o jogo como se de uma final se tratasse. E, rebobinando ainda mais, também não foi por acaso que os leões deixaram no banco alguns dos seus elementos mais valiosos na primeira mão da eliminatória da Liga Europa frente à Atalanta. Porque vinha aí o Arouca e um dos ataques mais cintilantes da prova, pelo que todos os cuidados eram efetivamente escassos para o que daí poderia provir. Eliminar o imponderável. Torná-lo opaco.

Ou seja, resumindo e concluindo, o Benfica está perfeitamente ciente de que só terá reais hipóteses de vencer a liga se derrubar o Sporting. Ponto. Até se pode argumentar que o FC Porto poderá dar uma ajuda, mas sem leão tombado não serão necessários mais raciocínios. É por aí e acabou. Por isso, há que estudar o verde ao mais ínfimo pormenor e vencer a final do próximo sábado. Até porque os demais adversários da liga podem perfeitamente perecer no alcance da lei do mais forte – uma diferença significativa de qualidade individual a favor do Benfica que disfarça qualquer lacuna ou plasticidade apresentada pelo coletivo.

E Schmidt estudou bem a lição. O leão tem a sua sala de máquinas instalada na zona central da defesa (processo de construção) pelo que tudo começou por aí. Pressão efetiva do lado esquerdo, com o venenoso convite para o Sporting sair pelo lado contrário, onde precisamente estava a debilidade – articulação entre Esgaio e Diomande. É lógico que tudo pode ser solucionável com um passe longo em profundidade em busca do furacão Gyokeres. Mas também é lógico que tudo fica condicionado quando os médios têm de recuar para estancar a debilidade, ou quando o jogo entrelinhas (sobretudo sem Pedro Gonçalves) não é assegurado da mesma forma.

Ora, se a sala de máquinas leoninas se apresenta como eixo de referência, é mesmo imperioso travá-la através de um ataque pressionante (Tengstedt aposta justificada) e que feche os espaços de canalização e de fluidez do jogo. Leia-se também a componente dos laterais e interprete-se um primeiro tempo em que o Sporting, sem ter estado aflito, esteve devidamente abafado e limitado em toda a sua dimensão de equipa extremamente perigosa.

Mas há algo de mais valioso que se alevanta. O fator treinador. O Sporting tem um treinador de altíssimo nível que, no final desta sua etapa, ficará com o nome gravado como um dos melhores técnicos dos leões de todos os tempos. Rúben Amorim. No final dos 45 minutos era necessário treinador e, mais uma vez, o Sporting teve-o. Três substituições arrojadas e inteligentes que, para além de terem estancado a hemorragia, colocaram o dedo na ferida de Schmidt: estudaste tudo ao pormenor e estás de parabéns por isso. Mas agora sirvo-te a receita de pernas para o ar e quero ver se tens capacidade de fazer a necessária pirueta tática.

Óbvio que as piruetas têm de ser precisas, caso contrário as mazelas podem deixar marcar irreversíveis. No particular, Rúben Amorim não só estancou a hemorragia do lado direito como o tornou num dos pontos mais fortes e rápidos da equipa. Duas picadas meticulosas (St. Juste e Geny) que conferiram velocidade de ponta e, mais importante do que isso, atribuíram ao jogo algo de totalmente diferente daquilo que foi apresentado na primeira parte. Daí o facto da equipa do Benfica ter ficado às aranhas no início da segunda metade e, muito embora o jogo mais caótico também tivesse favorecido os encarnados, certo é que ampulhetas trocadas são sempre um problema para quem gosta de planos rigorosos.

Se os encarnados atuam com quatro elementos dotados de pouca propensão defensiva, então a variável Florentino tem sempre de entrar em cena. E com maior efetividade se estiver, por consequência, subido no terreno e com os centrais expostos em zonas altas, que obrigaram Gyokeres a recuar para servir de pivô ou, então, a ter uma vasta planície para galgar antes de chegar à área de Trubin. A receita dos encarnados fez-se também com Bah em plano superior ao habitual e com um Aursnes que, valha a verdade, não sabe jogar mal e tem a notável inteligência de perceber cada dossiê de posição e segmento de jogo.

Aos encarnados apenas um caminho: analisar, reanalisar e escalpelizar cada migalha de jogo leonino. Com o anexo daquilo que poderá passar pela cabeça de Amorim para contrariar uma eventual supremacia encarnada. Se a crítica reside no facto do Benfica ter um plantel superlativo e sem necessidade de passar por tal tormenta, há também o otimismo providenciado pela boa-nova: Schmidt capitalizou a equipa para uma prestação mais ou menos condizente com o seu potencial. Se mantiver, pelo menos, manterá o leão em sentido. Às vezes mais vale tarde do que nunca. Finalmente Roger a Jato em exibição no cinema da Luz.

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