Tentar defender uma grande penalidade sem luvas foi algo que resultou de um instinto do guarda-redes Ricardo, no decisivo desempate com a Inglaterra, nos quartos de final do Campeonato da Europa de futebol de 2004.
“O momento de tirar as luvas foi instintivo, foi uma maneira que arranjei para me motivar a mim próprio e para tentar, de alguma maneira, desmotivar o adversário”, lembrou Ricardo, protagonista dessa “lotaria”, em entrevista à agência Lusa.
A defesa do remate do avançado Darius Vassell, sem luvas, seguida da concretização da grande penalidade que assegurou a qualificação lusa para as meias-finais do Euro2004, foi, para Ricardo, o momento “mais impactante” da competição.
“Quem nos dera que aquele jogo tivesse sido a final. Se aquele momento vivido tivesse sido a final e tivéssemos ganhado o Europeu com um momento daqueles, o que teria sido? Teria sido a cereja em cima do bolo, em termos de emoção e espetáculo”, afirmou.
Ricardo assume-se apreciador de “estádios cheios” e que estava à vontade no momento de marcar a grande penalidade decisiva, até porque estava habituado a fazê-lo.
“Não se pode dizer de certeza absoluta, mas até hoje, na minha carreira, nunca falhei nenhum penálti e, por isso, aquele era o momento em que não podia falhar também”, frisou.
Apesar de ter sido decisivo, Ricardo recusa o estatuto de “herói” da seleção: “Não. Eu e os meus colegas, todos nós tivemos [esse papel]. Não gosto de individualizar.”
Ricardo preferiu recordar o “grupo fantástico” e a “seleção fantástica” do Euro2004, que encetou um percurso que “fantástico em todos os aspetos”.
“É sempre com saudade e nostalgia que nos lembramos disso”, admitiu.
Em relação aos conselhos que supostamente teriam sido dados por Eusébio antes da marcação das grandes penalidades, Ricardo admitiu que a conversa visou tranquilizar o “Pantera Negra”, em cuja memória se instalava o duelo entre as mesmas duas seleções, no Mundial de 1966.
“É um jogo que mexeu muito com as emoções dele, porque o fazia recuar, na altura, 40 anos, e nós tentámos tranquilizá-lo e passar-lhe a nossa motivação e otimismo de que iríamos passar os ingleses. Por isso é que ele sofreu tanto de fora”, lembrou Ricardo.