Luís Filipe Vieira: Afinal, onde está a aposta na formação?

Afinal, onde está a aposta na formação? Esta terá sido uma das mais velozes contradições do futebol nacional. Em menos de dois dias, Luís Filipe Vieira deixou claro que a prometida aposta na 'prata da casa' ainda não será para já.

Rapidamente, o presidente das águias desfez o que afirmou como uma necessidade e investiu na compra do alemão Hany Mukhtar: se o jogador chegar no verão, nada custará; se assinar agora em janeiro, o clube lisboeta terá que pagar ao Hertha de Berlim cerca de 500 mil euros.

Com ações, LFV mostrou que 'as palavras leva-as o vento' e que o escolhido de Jorge Jesus para substituir (ou ajudar na substituição de) Enzo Perez no imediato é mesmo um alemão de... 19 anos. É que se a aposta do Benfica fosse num atleta com rodagem, experiente, nunca se poderia argumentar que a formação encarnada seria solução, mas a alternativa ainda é um adolescente com menos de 20 anos.

Neste caso, as escolas do Benfica, que muito têm evoluído nos últimos anos, teriam as suas próprias soluções. Falo de João Teixeira (Benfica B, 20 anos) ou Bernardo Silva (emprestado ao Mónaco, 20 anos). Ambos jogadores que poderiam, certamente, fazer mais e melhor do que Mukhtar, caso a confiança de Jorge Jesus fosse exatamente a mesma nos lusos.

Não venho com estes exemplos questionar a capacidade de Jesus para trabalhar jogadores. E escolhi a expressão 'trabalhar', porque considero que o treinador das águias é mesmo melhor a 'trabalhar' valores do que a formá-los. Já o provou com a adaptação muito feliz de Fábio Coentrão a defesa-esquerdo ou com a mestria com a qual tornou Angel Di María, Ramires, Matic e Enzo Perez em jogadores de classe mundial.

Mas não parece existir vontade do treinador da Amadora em apostar nos jogadores da formação do Benfica, em atletas que poderiam contribuir para o sucesso de Portugal daqui a uns anos. Bernardo Silva está a ajudar Leonardo Jardim no Mónaco, antes Miguel Rosa 'perdeu-se' no Belenenses. João Cancelo e André Gomes já 'fugiram' para o Valência e Ivan Cavaleiro (cedido ao Deportivo da Corunha) fará exatamente o mesmo se não lhe for reconhecido valor na Luz.

As recentes peripécias em torno do BES, agora Novo Banco, terão dificultado a facilidade do Benfica em se financiar junto desta instituição bancária. A precoce eliminação das competições europeias também não ajudará as águias a acumularem receitas. Por isso, restam duas opções: ou seguem o exemplo de Enzo Perez e vendem também Nico Gaitán e Salvio ou começam a dar reais minutos aos elementos da formação, como felizmente tem acontecido com André Almeida.

Estas foram algumas palavras do presidente Luís Filipe Vieira sobre o assunto, na entrevista referida ao jornal A Bola, citado pelo próprio site oficial do Benfica:

«O tempo agora é de olhar para dentro. Temos cada vez mais de contar com jogadores da Formação nas nossas equipas profissionais. Há dois fatores que convergem para uma mudança de rumo, independentemente do nome e do perfil do treinador. Por um lado, como já disse anteriormente, o facto de ao fim de oito anos começarmos a ter jovens de muita qualidade no Seixal. Por outro lado, os constrangimentos financeiros vão obrigar-nos a olhar cada vez mais para dentro. Vamos deixar de poder fazer os investimentos que fazíamos no passado. Tenho a certeza de que Jorge Jesus já identificou os jogadores que podem crescer e afirmar-se na primeira equipa», disse.

Será Jorge Jesus o homem certo para levar a bom porto as intenções do presidente Luís Filipe Vieira ou o presidente encarnado terá que começar a preparar uma 'nova era' com outra cara ao leme? A época 2015-2016 responderá certamente a esta questão.

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