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Música embalou «união de grupo inabalável» em 1989 e 1991 - José Catoja

Os dois títulos mundiais de futebol de sub-20 celebrados por Portugal, em 1989 e 1991, tiveram sempre o acompanhamento do som da guitarra, cujos acordes eram dados pelo então massagista das seleções nacionais José Catoja.

Música embalou «união de grupo inabalável» em 1989 e 1991 - José Catoja

“Ensinava uns a cantar, outros a tocar e um dia fomos fazer um hino para nós. O ‘Todos Somos Portugal’ saiu das brincadeiras no hotel e fora dos ambientes de trabalho. À hora de jantar, íamos para o posto médico fazer algum tratamento e as pessoas reuniam-se à volta, ocupando o tempo por causa de se fazer uma música”, partilhou à agência Lusa.

José Catoja, de 71 anos, preparou a letra noites a fio e os atletas dedicaram-se meses a ensaiar a cançoneta, ao ponto de a terem imortalizado “com a sua graça e circunstância” no afamado estúdio Tchatchatcha, em Algés, Oeiras, de onde saíram álbuns históricos.

“Foi gravada por pessoas que nem sabiam como era gravado um disco. Não houve imprensa que soubesse disso, mas apenas nós e a equipa técnica. Eram miúdos de 19 e 20 anos que nunca tinham estado num estúdio, mas ali cruzaram-se com artistas da época. Alguns já pensavam que, além de futebolista, eram também um artista”, ironizou.

Excetuando alguns mais afinados, como Abel Xavier, a maioria das vozes dos jogadores não entraram na edição final do ‘Todos Somos Portugal’, previamente engendrada entre o massagista, o orquestrador Ramón Galarza e o pianista e produtor António Barbieri.

“O Ramón escolhia as seis melhores vozes de jogadores para juntar às outras. Quando fizemos a última gravação, há uma fotografia com todos juntos no estúdio dele e de auscultadores. Há muita gente que esteve ali e guarda religiosamente essa fotografia da celebração final com todos, mas algumas vezes daquelas não entraram”, enquadrou.

Com mais ou menos playback, o hino empurrou Portugal para um percurso vitorioso em 1991, entrando no ouvido com o refrão “Vamos viver, vamos sorrir. Vamos vibrar com novas emoções. Vamos cantar, vamos ganhar. Pois queremos ser de novo campeões”.

“E criou-se uma união de grupo que não queira ver. Antes dos jogos cantávamos sempre o refrão. Era obrigatório. Parecendo que não, deu uma força e um ânimo àquela gente e uma união inabalável. Quando isto aconteceu, foi uma surpresa para tudo e para todos, porque ninguém esperou que isto fosse ter o impacto que teve”, lembrou José Catoja.

Dois anos antes da final de Lisboa, no antigo Estádio da Luz, onde a equipa das ‘quinas’ venceu o Brasil (4-2 nos penáltis, após um ‘nulo’ no prolongamento), outra geração sob orientação de Carlos Queiroz já partilhava um espírito coletivo assente em cantorias.

“No dia da final na Arábia Saudita estávamos na piscina a tocar e a cantar. Fomos todo o caminho em pé no autocarro a cantar tudo e mais alguma coisa e entrámos dentro do estádio assim, com os jornalistas todos a bater chapa com fartura. Só se ouvia disparos das máquinas fotográficas, a malta a escrever e as câmaras a filmar”, contextualizou.

José Catoja reconhece que os nigerianos “achavam que os portugueses eram malucos, não sabiam para onde iam e não mostravam seriedade nenhuma” antes do encontro decisivo de Riade, que viriam a perder 2-0, ajudando a consumar um inédito título luso.

“Havia o chamado grupo do veneno, que pedia sempre àqueles que cantavam mal para cantarem coisas que ninguém sabia, mas que todos acompanhavam e batiam palmas. Não havia uma favorita, mas levávamos música sul-americana e portuguesa da época. É claro que isto podia não ter sido assim se tivéssemos perdido o primeiro jogo”, contou.

Disponível para responder a qualquer necessidade médica nas diversas seleções da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), que representou de 1986 a 1996, o massagista coadjuvou João Silva na Arábia Saudita e operou “absolutamente sozinho” em Lisboa.

“Eu não era assim tão importante. A única coisa é que na altura tinha quatro filhos e a ausência dos meus rapazes fazia-me transportar esse vazio para outros que também tinham um vazio seu. Se calhar, isso preencheu o ego uns dos outros. Passámos muito tempo juntos, soubemos gerir o bom e o mau e acabou por ser um rotundo êxito”, frisou.

José Catoja ingressou na FPF por indicação do adjunto Nelo Vingada, que conheceu no Vilafranquense (1984/1986), e viu Carlos Queiroz construir um “clã de luta”, enraizado num espírito de família” a desafiar Portugal “a ter de ganhar tudo e mais alguma coisa”.

“Para mim, aquilo era quase a equipa perfeita: um dizia mata, o outro dizia esfola. A equipa de diretores dava um apoio quase total e havia uma vantagem muito grande: as vitórias, coisa que nunca tinham aparecido, estavam a aparecer. O aparecer das vitórias não se corta, deixa-se avançar. Isso deu um pouco de força a toda esta gente”, concluiu.

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