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LC: António Simões lamenta final atípica de 1964/65 com Inter em Milão

Uma “série de infortúnios” condicionou as pretensões do Benfica na final da edição 1964/65 da Taça dos Campeões Europeus, que foi revalidada pelo Inter Milão no seu próprio estádio (0-1), rememora o ex-futebolista António Simões.

LC: António Simões lamenta final atípica de 1964/65 com Inter em Milão

“No nosso lado esquerdo defensivo alinhava Jair, que era muito rápido, fugiu e chutou de um ângulo difícil, com a bola a passar entre as pernas do guarda-redes Costa Pereira. A forma como sofremos aquele golo foi um desalento. Ficámos em desvantagem e é muito difícil jogar assim que as equipas italianas se apanham a ganhar. Estão sempre à espera disso para ficarem como peixinhos na água”, frisou à agência Lusa o ex-avançado, de 79 anos, que alinhou nas ‘águias’ (1961-1975) e sagrou-se campeão europeu em 1961/62.

Em 27 de maio de 1965, perante cerca de 89.000 espetadores em San Siro, um tento do brasileiro Jair da Costa, aos 42 minutos, permitiu ao Inter Milão renovar o cetro obtido em 1963/64 (3-1 frente ao Real Madrid) e igualar as duas conquistas do Benfica (1960/61 e 1961/62), para, em 2009/10, chegar ao ‘tri’ sob orientação do português José Mourinho.

“Tivemos a oportunidade de jogar num grande estádio, com um ambiente fantástico, mas não foi muito simpático ter chovido. Mesmo sofrendo um golo muito consentido, que nos traumatizou um pouco, estivéssemos sempre mais próximos de empatar do que eles de fazerem o 2-0. Falamos de atletas simplesmente extraordinários no Inter, tais como Luis Suárez, Mario Corso, Alessandro Mazzola e Giacinto Facchetti”, indicou António Simões.

Além de ter facilitado no lance providencial do jogo, Costa Pereira saiu lesionado aos 57 minutos e deixou as ‘águias’ em inferioridade numérica, tendo o defesa central Germano ocupado o seu lugar entre os postes, numa altura em que ainda não havia substituições.

“De certo modo, isso enfraqueceu-nos e pôs-nos em desigualdade perante o adversário. Sei que é especulativo, mas atrevo-me a dizer que, se houvesse substituições, teríamos sido mais vezes campeões europeus [pelo Benfica] e, possivelmente, do mundo [com a seleção portuguesa, no Mundial de 1966, em Inglaterra]. Olhando aos jogos que tivemos, poderíamos gerir muito melhor o despendo físico em provas tão ‘violentas’”, considerou.

António Simões, então com 21 anos, conta que “era preferível” adaptar Germano à baliza em função da “lesão ao nível das costas” de Costa Pereira, apesar da “pressão” exercida pelos seus colegas de equipa para que o guarda-redes resistisse em campo até ao final.

“Quando o treino acabava e ficávamos ali na brincadeira a chutar e a centrar, o Germano tinha aquela coisa de ir para a baliza. Como tinha jeito, logo se viu que tinha de ser ele a assumir esse papel. Por outro lado, o Germano tinha uma rotura muscular, que não teria tanta influência na baliza como se estivesse a jogar em outro lugar do campo”, partilhou.

Comandado pelo romeno Elek Schwartz, o Benfica tentou forçar o prolongamento na sua quarta final da Taça dos Campeões em cinco anos, mas o conjunto do argentino Helenio Herrera, devoto do clássico ênfase defensivo do ‘catenaccio’ transalpino, sairia por cima.

“Lembro-me de ter feito uma combinação na segunda parte com o Eusébio, que rematou de fora da área, a bola subiu ligeiramente e passou perto da baliza. Ficámos com aquela esperança de empatar. O Inter não avançou, muito menos quis fazer o 2-0, mas também não o deixámos. Jogámos verdadeiramente com 11 atletas em vez de 9,5”, reconheceu.

Ao soar o apito final do árbitro suíço Gottfried Dienst, as ‘águias’ falhavam, pela segunda vez, a hipótese de alcançarem o terceiro cetro europeu, dois anos depois da derrota com os também italianos do AC Milan (1-2), sendo que, mais tarde, viriam a perder outras três finais, em 1967/68 (Manchester United), 1987/88 (PSV Eindhoven) e 1989/90 (AC Milan).

“Eu pertenci a uma geração espontânea, que esteve em cinco finais, de 1961 a 1968. É algo fantástico, mas difícil de repetir”, admitiu António Simões, autor de dois golos em nove jogos pelos então tricampeões nacionais e finalistas derrotados da Taça de Portugal (1-3 face ao Vitória de Setúbal, no Jamor) na 10.ª edição da maior prova europeia de clubes.

Numa caminhada elevada na primeira mão dos quartos de final, quando os espanhóis do Real Madrid, recordistas da competição, com 14 cetros, saíram goleados da Luz (5-1), o trono dos melhores marcadores foi dividido por Eusébio e José Torres, ambos com nove golos, com o ‘rei’ a tornar-se em 1965 o primeiro português a conquistar a Bola de Ouro.

Quase cinco décadas depois, os ‘encarnados’ podem ‘vingar’ essa final de San Siro nos ‘quartos’ da edição 2022/23 da Liga dos Campeões, cuja primeira mão está prevista para terça-feira, às 20:00, no Estádio da Luz, em Lisboa, levando o antigo internacional luso a detetar “certas semelhanças na relação entre a equipa e os seus associados e adeptos”.

“É claro que não há nenhum Eusébio, mas existem cinco ou seis atletas que jogam muito bem e têm processos de grande simplicidade no seu entendimento com o jogo. Isso faz-me lembrar alguns companheiros do meu tempo, quando se jogava em 100 metros. Hoje, joga-se em 35 ou 40 e é por isso que os atletas atuais têm de pensar muito mais rápido e exibem uma multiplicidade de funções. O importante é que o talento se liberte”, concluiu.

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