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Da Alemanha nem bom vento nem boa prosa

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Da Alemanha nem bom vento nem boa prosa
Futebol 365

Do “sou pai honrado” de Rui Vitória ao “fiz um trabalho muito mau” de Roger Schmidt. Da série “estás no filme errado” e “aqui nomeio a minha incompetência”. No fundo, quem tem razão é mesmo Herman José: cada tiro cada melro, cada cavadela cada minhoca. Inacreditável. Se o Benfica se arrasta em campo fruto, principalmente, de não saber aquilo que quer, sempre que abre a boca o técnico dos encarnados mete mais um golo na própria baliza. E nem é uma questão da estrutura de comunicação do clube o proteger ou não: a solução passaria mesmo por um “black out” total ou então por uma mordaça permanente. Sendo que nesta altura de crise impõe-se o “discurso do rei” para acalmar a nação e seguir em frente. Mas o rei vai nu, atarantado e ainda por cima usa o argumento de falar alemão para não perceber a legítima e portuguesa contestação que o rodeia. Mais uma situação caricata para o ramalhete de Schmidt.

Ou que jogar contra o FC Porto era o mais importante. Mas afinal era uma piada e todos os adversários são prioritários. Ou então fazer como na temporada passada, quando o venceu o Estoril após os desaires perante dragões, Inter e Chaves, e disse algo de transcendental. “Estamos aliviados”, afirmou. Mas desde quando é que o Benfica fica aliviado por ganhar ao Estoril? Ou, escavando um pouco mais, o próprio técnico tomou o triplo desaire como o princípio de um efeito dominó que, por obra do acaso, não sucedeu. Ou então não percebeu o contexto do clube que representa: o Benfica é um clube grande e levanta-se quando cai: fica ferido quando perde mas enfurecido e desejoso de dar a volta por cima. E volta a vencer com naturalidade, sendo que no casulo onde vivem “dor e fúria” o alívio não pode bater à porta.

A Roger Schmidt, o melhor que tem a fazer é mesmo “por os olhinhos” no vizinho do lado. Quando Matheus Nunes saiu, Rúben Amorim apontou os holofotes para as qualidades de uns e de outros, destacando as virtudes daqueles que ficaram como pilares para o Sporting ultrapassar a tormenta passageira e seguir em frente rumo à terra prometida. São exemplos, senhor. Coincidência ou não, os leões são primeiros, estão sólidos e procuram trilhar o mesmo caminho do primeiro título de Amorim: entre dragões que se reconstroem e águias à deriva, alguém há de passar nos pingos da chuva e levantar o caneco. Todos juntos e, na próxima época, até posso nem cá estar. Mas quem não gosta de um final feliz?

Reconhecer erros dentro de um contexto de competência é louvável – porque errar é humano – agora dizer que se fez um trabalho muito mau no final de um jogo é, no fundo, assinar o manifesto do caos com um sorriso amarelo e embaraçado. E, de facto, não fez. Taticamente falando, Roger Schmidt já percebeu que o modelo cristalizado utilizado vezes sem conta na temporada passada estava esgotado e algo tinha de mudar. Agora há vários tipos de mudanças: uma mudança desaconselhável é aquela que foi protagonizada diante do Portimonense: tirar três jogadores nucleares ao intervalo: Bah, Musa e Kokcu sem perceber que os algarvios podiam fazer mossa na transição rápida. Valeu Trubin a sacar uma grande penalidade. Para mudanças bruscas mais vale estar quieto. Arriscar apenas no momento certo, quando se pressente que o desenho tático está estável e, apesar da hipótese de derrota estar sempre presente, não se jogar como nos primeiros trinta minutos diante da Real Sociedad: não tivessem os bascos desacelerado e a coisa poderia ter evoluído a um cenário igual ou próximo do célebre embate frente ao Celta de Vigo.

Mas a questão até remonta ao passado: nada contra o facto do Benfica jogar com três centrais, mas acontece que essa situação nunca passou pela cabeça na temporada transata. Caiu de para-quedas. E os três centrais pressupõem habilidade dos mesmos no processo de construção, sendo que o Benfica emprestou o seu elemento mais apto nesse capítulo em específico: Lucas Veríssimo. Que tanta falta faz nesta altura da corrida. Onde as primeiras decisões começam a surgir.

Se Schmidt deve sair se perder o dérbi? Sim. E não pelos eventuais três pontos perdidos. Mas antes pela incapacidade de criar uma identidade de jogo – no meio de 3x4x3 e de 4x2x3x1 é muito complicado perceber como joga o Benfica sendo que os jogadores se incluem neste lote de perdidos – e também pela penumbra que existe no discurso do treinador. Como se fosse o simpático e sincero relatador lá do campeonato do bairro que, com o seu cachecol e boina, tenta convencer a malta de que o pessoal do prédio ao lado ganhou porque o futebol é mesmo assim. E há que aceitar.

A outra face da moeda é o Benfica manter-se em autogestão. Esquecer a Europa e tentar os mínimos nas competições nacionais, porque efetivamente tem bons jogadores. Levar o individual a prevalecer em prol do instável coletivo. É claro que o calendário dá conta de si: estamos em novembro e ainda há muita estrada no horizonte. Há meia dúzia de meses, Rui Costa renovava com o seu técnico. Hoje deita as mãos à cabeça e constata uma performance decrépita na Liga dos Campeões, ainda por cima num grupo teoricamente acessível. A questão da dissolução ganha força e coerência: afinal o Benfica tem jogadores de muita qualidade. Que podem assimilar novas ideias de forma muito rápida. Por isso, o voto é sim.

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