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Sporting: Um corte certeiro na entremeada

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sporting: Um corte certeiro na entremeada
Futebol 365

Ao Sporting não basta ter sido o justo vencedor do clássico. Na realidade, e com exceção do Liverpool, os leões devem ter realizado a mais robusta exibição diante do FC Porto de Sérgio Conceição de que há registo. Coerentes na abordagem ao jogo, imponentes nos duelos físicos (aspeto onde a equipa melhorou imenso) e, claro está, aquela mentalidade incutida pelo treinador de que no final do ano podemos todos abrir a garrafa de champanhe no Marquês. E celebrar um hipotético último capítulo que, feitas as contas, não deixa de ser um último capítulo de qualquer coisa grandiosa. Seja uma etapa. Seja o final feliz.

Esta história tem o seu início no próprio conhecimento da equipa do FC Porto que, nesta temporada e em face do seu plantel, apresenta uma espécie de face dupla: mais contida no plano interno - dadas as lacunas em termos de criatividade ofensiva, que são enfatizadas quando o adversário atua (por falta de ou por opção) em bloco muito baixo; e, por outro lado, uma face mais arrojada na Europa, aproveitando o espaço existente para fazer mossa à custa de transições rápidas (potenciação de Galeno), na sequência de um natural jogo menos cristalizado e mais partido.

Olhando para a moeda do Dragão de ambos os lados, o Sporting tomou a mais astuta das decisões. Pelo meio. Se temos uma evidente dupla face, nada como atacar a frincha. O hiato. Por aquela zona que, no fundo, nem significa Europa nem tão pouco competições europeias. A receita estava concebida: bloco muito baixo e recuo estratégico para obrigar o FC Porto a puxar os galões da criatividade que não possui; e, por outro lado, também jogar à tubarão: transições ofensivas muito rápidas, muito violentas, com a joia da coroa Gyokeres a mostrar que valeu bem a pena o investimento realizado bem como a insistência na sua contratação. De facto, os ingleses estavam todos a dormir.

Tal estratégia bate de frente com algumas debilidades do FC Porto. Nomeadamente no aspeto defensivo. Muito embora do meio-campo para a frente ainda sobre espaço para melhorar (inclusão dos criativos Ivan Jaime ou Francisco Conceião poderá ser fundamental) não é por aí que o FC Porto deixa de ser forte. O problema está mais atrás. Faltam soluções na linha defensiva, sobretudo na zona central, onde apenas Pepe apresenta uma coesão de recursos capaz de sublinhar a chancela de qualidade dos dragões.

De resto, o universo defensivo portista é escrito com elementos que possuem pontos fortes significativos mas esbarram em gralhas determinantes: Fábio Cardoso e a sua repulsa ao controlo do espaço nas suas costas; os erros sucessivos de David Carmo, não só motivados pela readaptação a uma linha de quatro (Braga na altura jogava com cinco defesas) mas também provenientes de uma tremenda instabilidade emocional – nunca se abstraiu do facto de ter custado 20 milhões; e um Zé Pedro que, apesar de ser a mais sólida solução de momento, apresenta algumas imperfeições que são fatais perante avançados de alto calibre.

O atestado a Zé Pedro - que ainda assim constrói bem e é e vai continuar a ser muito útil diante de equipas mais fechadas - passa-se no lance do golo inaugural. Onde Diogo Costa podia ter feito um pouco mais na cobertura do primeiro poste e onde Pepe também podia ter estado uns furos acima em termos de abordagem individual. Mas são falhas ligeiras e compreensíveis dentro de um espectro onde todos erram e não há nem jogadores nem equipas perfeitas. Isto para além de andar por lá Gyokeres, que não é qualquer um.

No entanto, para além da transição ofensiva não ter sido estancada na origem, não se compreende que Zé Pedro não tenha, no ponto de rebuçado da desmarcação, acionado o “chip” da dobra e, com isso, evitado que Gyokeres pendesse para dentro e finalizasse.

O lance marcou o jogo e o avançado sueco cotou-se, mais uma vez, como o melhor em campo. Para além do golo e da assistência, um particular realce à forte reação à perda e, a espaços, ao bloqueio da zona de ação de Alan Varela, provavelmente o mais fiável (recuperação defensiva e ligação entre setores) elemento dos dragões da atualidade. É claro que a entrada de Eduardo Quaresma também foi uma aposta ganha: com muita verticalidade e aceleração obrigou, sobretudo, o FC Porto a recuar e a desgastar Galeno numa correria infinita para compensar o espaço à retaguarda e, com isso, a perder o fôlego para atacar o espaço dianteiro como desejaria.

Tal como Rúben Amorim referiu na conferência de imprensa, se Quaresma adquirir consistência e apresentar uma performance semelhante em todos os jogos, poderemos estar diante da confirmação de estatuto de um jovem central com qualidades inegáveis.

Não há ligas sem emoção à flor da pele e, na realidade, ter os quatro grandes separados por cinco pontos à 14ª jornada é um excelente cartão promocional para o exterior. Acresce também o facto das mesmas quatro equipas ainda pontificarem na Europa, com todas elas a terem hipótese de seguir em frente. Se ao FC Porto falta também o detalhe do costume – se tivesse vencido o Estoril hoje seria líder ex-aequo – ao Sporting atribui-se o mérito da construção de uma matriz de jogo diferenciada e que, só por isso, motiva uma abordagem excecional por parte dos adversários: é sempre incómodo enfrentar-se o positivo anormal, até porque demora mais tempo a escalpelizar e, por conseguinte, tudo aquilo que pudermos apresentar para o travar será sempre uma experiência em laboratório.

O Sporting apresenta jogadores diferentes mas, desde a entrada em cena de Rúben Amorim, nunca enviesou o seu modelo de jogo. Manteve-se fiel. Até no refúgio dos seus pontos fracos e na criação de uma embriagada ilusão de que é muito fácil vencer o Sporting. Como aconteceu há três épocas: toda a gente sabia como desmantelar o Sporting. Faltou foi desmantelá-lo.

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