loading

FC Porto: Papelada que mói o sentimento

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: Papelada que mói o sentimento
Futebol 365

Nada a dizer em termos táticos e de potenciação efetiva dos quadros individuais até ao limite das suas capacidades. Sérgio Conceição e o exemplo das épocas transatas: Luis Diaz, Vitinha ou Otávio, apenas para se rebobinar de forma rápida. Ou, pelo menos, a efetivação de um plano nesse sentido, dado que os jogadores são de carne e osso e nunca se pode garantir a concretização de um documento quando do outro lado estão reações, sentimentos e imponderáveis. Assim no futebol tal como em todas as áreas do conhecimento. Não há milagres. Nem a papelada se humaniza.

No caso do FC Porto, e no setor específico da zona central da linha defensiva, existe a imperiosa necessidade de se apresentar um orçamento retificativo tendo em conta a deturpação de um contexto que, na tômbola da fortuna e do inexplicável, se transformou de ponto médio a referência de debilidade. Os centrais. As duas situações são difíceis de explicar mas, ainda assim, completamente distintas: ninguém poderia adivinhar que Marcano sofresse uma lesão que o afastasse (presumivelmente) até ao final da temporada; por outro lado, a aposta em David Carmo parecia efetiva não fosse o jogador (também presumivelmente) criar uma espécie de “amigo imaginário” que o lembrava e lembra, a todo o momento, do facto de ter custado os tais 20 milhões de euros. E que o impediram e impedem de desenvolver em campo todo o seu potencial.

Não há imponderável que não desague num cenário de face dupla: também o positivo da questão. Zé Pedro. Um central que, para além da segurança, acrescenta critério na fase de construção, com o colorido do exemplo a aparecer no lance do primeiro golo diante do Casa Pia – solicitação precisa a desequilibrar o jogo através dos pés de Eustáquio. No entanto, e subidas de patamar à parte, o problema agudizou-se até porque Pepe – o mais fiável e completo de todos os recursos que pontificam – vai a caminho dos 41 anos e, por muito que o recato e o profissionalismo prolonguem as carreiras, também não há travão definitivo à locomotiva dos dias. Descanso precisa-se, lesões acentuam-se e, acima de tudo, a gestão do corpo e do físico tem tanto de positivamente excecional como de meticulosa. Com Pepe todos os cuidados são poucos.

Esculpindo um pouco mais, existe também a necessidade de se avaliar a matéria-prima existente, tendo em conta que todos eles (centrais) chegaram ao FC Porto por mérito e, como tal, as qualidades também são amplas. Ou, virando o móvel de pernas para o ar, o que é mais urgente de se resolver de acordo com aquilo que há? A resposta parece residir no golo do Barcelona no Dragão (e não só): com exceção de Pepe, os centrais do FC Porto não gostam muito de espaço nas suas costas, com as equipas contrárias (Gyokeres e companhia) a compulsivamente baterem nessa tecla mais torta do piano. E com resultados práticos e substantivos.

Por conseguinte, a necessidade de se recorrer ao mercado para colmatar a lacuna do centro da defesa é efetiva. Se a pressa é inimiga da perfeição, convém também salientar que o estado que se atravessa é apenas o de alerta. Não de emergência ou de calamidade. E que o reforço de um setor deve ser feito de acordo com uma lógica de sistema. Ou seja, se a contratação de um jogador piscar o olho (ou mesmo abraçar) as contingências ou necessidades de outra zona do campo, então tanto melhor. O jogador polivalente (que pode sê-lo mesmo sem o saber) é altamente valorizado num contexto atual em que os melhores são mesmo aqueles que mais rapidamente se adaptam ao(s) modelo(s) do treinador.

Falar do possível recrutamento de Gabriel Pereira, do Gil Vicente, é algo de pertinente. Que faz todo o sentido. Não só pela sua juventude como, sobretudo, pela margem de progressão associada e alcance multissectorial dentro desse próprio largo alcance. Se o facto de já ter atuado como médio-defensivo represente sempre uma mais-valia em termos de cardápio, o que se salienta é a capacidade de construção e velocidade – seja ela expressa nas dobras aos laterais ou então ao nível das recuperações. Porque este último ponto é, efetivamente, o nevrálgico. O essencial de todos os essenciais. Dado que a lapidação dessa mesma característica poderá, não só, servir para se amenizar o problema fundamental dos centrais portistas como também poderá representar uma evidente alavanca para o recrudescimento daquilo que se pretende de uma linha defensiva de um tubarão: centrais a jogarem mais à frente. Para isso têm de ter velocidade de ponta. E, para isso, terem algo que já existe, um guarda-redes muito bom no controlo da profundidade.

Mesmo também em relação a Alan Varela – que teve de atravessar um período de afinação em laboratório antes de ser atirado às feras – não pode nem deve de existir sofreguidão no processo por dois motivos: em primeiro lugar para não haver retrocesso no introdução de um corpo que não deixará de ser estranho (entrar e sair da equipa é sempre contraproducente); e, depois, pelo facto dos que lá estão terem a natural primazia de quem possui largos dias de trabalho e microafinação atrás de microafinação.

É também legítimo dizer-se que há outros setores que precisavam de uma refrescadela. Como o lado esquerdo da defesa. Mas aqui a reflexão traz de si um ponto conclusivo e as amarras do positivo: por muito que Wendell e Zaidu não sejam, com toda a sinceridade, nem Alex Sandro nem Álvaro Pereira, há mais daquilo que os une do que aquilo que os separa: têm características completamente diferentes e, como tal, podem ser usados mediante o adversário de uma forma efetiva. A fusão, às vezes, faz-se sem se dar por ela.

Siga-nos no Facebook, no Twitter, no Instagram e no Youtube.

Relacionadas

Para si

Na Primeira Página

Últimas Notícias

Notícias Mais vistas

Sondagem

Roger Schmidt tem condições para continuar no Benfica?