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FC Porto: Quero comprar um Varela

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: Quero comprar um Varela
FC Porto

No caso de Alan Varela, nem se tratou bem de um período de congelação. O melhor será mesmo falar de lapidação. E, melhor ainda, será falar de lapidação em contexto de coletivo, sendo que o crescimento da equipa no seu todo permite, por inerência, que todos os elementos subam de rendimento quase de forma automática. Sem que os próprios percebam como. Acresce ainda a variável da adaptação, que extravasa a dimensão crua do jogo: porque um argentino que chega a Portugal vai a restaurantes e supermercados diferentes, algo que é enriquecedor do ponto de vista humano, mas lento de assimilar para quem muda de país e tem de construir novas rotinas enquanto derruba os hábitos do passado. A cabeça mexe sempre.

No caso de Varela, o destino parece dizer-lhe: esta é a tua casa. Jogador à FC Porto. Um médio moderno, com atitude e personalidade, que joga sempre de cabeça levantada e não apresenta qualquer tipo de hesitação quando tem de se aproximar das zonas de definição ou de finalização. Diante do Farense, a multiplicidade de recursos ficou evidente: construção em zonas baixas, algumas vezes como central do lado direito e permitindo a subida efetiva de João Mário para outros eixos de navegação; ou então avançar pelo miolo sem medo, enquanto pisca o olho a Evanilson e à sua astúcia em termos de conquista rápida da profundidade; e, claro está, a capacidade de tiro. O remate tenso e colocado, que tanto dá para o improviso como para as bolas paradas. Que decide jogos. Sobretudo aqueles em que é necessário retirar o saca-rolhas da gaveta.

É claro que não se pode tapar o sol com a peneira e tomar Varela como um poço inesgotável de virtudes. Até porque tal pequeno mundo é onírico dentro da cápsula do mundo real do futebol. E o lance que originou a grande penalidade a favor do Farense pode ter advindo digamos, de um excesso de confiança ou de uma espécie de ato reflexo dentro de uma situação imponderável. Algo que se evita no novelo do trabalho e, valha a verdade, ainda bem que aconteceu em contexto inofensivo de jogo. Análise posterior não traumática e virada para a correção rápida e sem feridas salientes ou imediatas. Varela protegido e acarinhado.

A explosão de Varela não é um ato isolado. E colhe benefícios da ação de um colega de setor – Nico Gonzalez – que também tem estado em alta. Aqui, no entanto, há que sacar o microscópio do laboratório. E olhar para horizontes que não estão propriamente visíveis a quem olha para a bola como o centro do jogo. Porque é neste positivo ocaso que pontifica o mundo de Nico Gonzalez: movimentos sem bola que permitem que a primeira fase de construção surja sem ruídos. Criação de pequenas crateras no jogo que fazem com que Varela tenha mais conforto para subir, enquanto a equipa não se desequilibra em termos defensivos. Na realidade, o período de congelação a que se refere Sérgio Conceição não parece ter sido concebido para retirar a capacidade criativa nem a habilidade para ligar setores; foi, isso sim, para calibrar os movimentos sem bola de Nico e, no fundo, para organizar a equipa em termos de uma primeira fase de construção que, atualmente, faz com que o FC Porto saque golos com bastante frequência e regados a excelente qualidade coletiva. No comando das operações surge também Pepê na sua dupla função – terceiro médio ou apoio ao eixo de ataque – que não o transforma num novo Otávio mas antes potencia a equipa em termos daquilo que deve ser a sua imprevisibilidade dentro do universo de um jogador especial: a capacidade técnica de Pepê é de tal ordem que fica-se com a ideia de que se a bola fosse piramidal, ela continuaria a sair redonda dos pés do brasileiro. Como nenhum outro em Portugal.

Sim, porque o FC Porto joga muito à bola. Se a entrada em cena dos extremos ajudou – e só entraram após a consolidação dos ritmos e dos homens do miolo – também a dinâmica de 4x3x3 torna a equipa mais ampla mas sem que se esqueçam outros vetores: como a mais-valia evidente que é possuir Evanilson nos quadros, sobretudo (e não só) pela sua notável capacidade de conquistar espaço atrás da linha defensiva contrária e, através disso, de proporcionar novas zonas de conforto a uma equipa que tem a sua debilidade na linha defensiva.

E debilidade não pela falta de organização mas sim pela falta de recursos. Por muito que os três centrais apresentem rendimento assinalável – destaque para a maior serenidade de Fábio Cardoso no controlo do espaço à retaguarda – convinha ter um pelotão mais recheado. Até porque esta temporada já foi apresentado o modelo de três centrais que, para além de necessitar de mais recursos, impõe quase de forma obrigatória a presença de centrais esquerdinos, situação que o FC Porto no pós- David Carmo não dispõe neste momento.

Por aí, também a dinâmica coletiva impõe a sua lei. Se o FC Porto conseguir – como tem conseguido – canalizar o centro do jogo para linhas mais avançadas, então também o adversário será mais previsível na sua transição ofensiva e, por conseguinte, a organização da própria equipa pode gerar um escudo protetor da sua zona central. Mas tudo é desmembrável quando entra em cena outra variável: a qualidade individual dos intervenientes. Algo que ditou as vitórias de uma equipa do Barcelona que, em termos coletivos, até se mostrou bastante inferior aos dragões. Hoje, porém, se calhar não seria bem assim. Porque coletivo esmiuçado consegue condicionar todos os fogachos de talento.

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