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FC Porto: Tudo está bem quando se empata menos bem

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: Tudo está bem quando se empata menos bem
Rio Ave

É a pergunta que se coloca: será que o empate a zero diante do Rio Ave representa o princípio de um ciclo negativo? Ou então é um epifenómeno dentro de um ciclo de consolidação e de vitórias? E, claro está, colocar a tónica do mérito na própria estratégia definida por Luís Freire, porque o empate não adveio da maré do acaso. O Rio Ave esteve em grande e, depois do que se passou na primeira volta (golo de Marcano mesmo a fechar), pode dizer-se que os vilacondenses foram um osso duro de roer para os dragões. Ninguém empata sozinho.

A resposta parece ser clara: epifenómeno. Na realidade, o fluxo de criação dos dragões foi superlativo e no quadro daquele que tem sido evidenciado nos últimos tempos, isto também consequência da estabilização de um onze que fortalece o ataque pelos corredores e traz a equipa mais para a frente, devidamente sustentada por uma dupla – Varela e Nico – que oferece uma maior solidez em termos de defensivos (Varela) e de construção ao nível da primeira fase (Nico).

Aliás, a própria constatação de que foi um epifenómeno aconteceu nos Açores diante do Santa Clara. Em equipa que ganha não se mexe. Em equipa que empata dentro de um quadro de melhoria acentuada também não. E não é descabido dizer-se que, malgrado todas as circunstâncias, os dragões fizeram mais do que o suficiente para obterem os três pontos, pelo que o resultado foi naturalmente injusto. E com uma ressalva: a jogar assim o FC Porto vencerá mais vezes, sendo que os empates e as derrotas também acontecem e tocam a todos. Há estrada para andar e é para continuar. Seguir em frente. Com confiança.

Mas, afinal, o que poderia ter corrido melhor? Desde logo a firme sacudidela naquela ideia de que a equipa rende mais sem Taremi do que com ele. Que é errada. Para além de ter golo nos pés, o iraniano acrescenta capacidade entrelinhas e mobilidade na frente de ataque, atributos que são muito úteis quando é necessário enfrentar defesas com blocos mais recuados. É verdade que Pepê melhorou (e muito) nesse capítulo – também e sobretudo ao nível da definição - mas o “ADN” dos jogadores prevalece nos momentos mais críticos. Taremi faz falta. E muita.

Depois, há também a situação de Galeno. O extremo é de tremenda utilidade quando tem espaço à sua frente mas aparenta dificuldades visíveis quando o mesmo não existe. Do outro lado do argumento, a constatação de que a consolidação das rotinas dos corredores representa uma tónica de crescimento da própria equipa: se, do lado direito, os movimentos exteriores de João Mário puxam positivamente Francisco Conceição mais para dentro e dão nova clarividência ao jogo interior, no flanco contrário a subida de rendimento de Wendell cola-se a um Galeno mais propenso às tarefas defensivas e às recuperações rápidas. Por isso, mexer numa peça implica mexer na outra. Ou, pelo menos, abanar a outra. E mexer em muitas peças implica alterar um modelo que, nos últimos tempos, se tem robustecido com a consequência natural do crescimento individual dos próprios elementos que o compõem. Mais jogadores é igual a mais equipa.

Falar de uma equipa grande implica também referir a efetiva e necessária primeira fase de construção. Sobretudo a partir da zona central. Podemos também argumentar que não é condição obrigatória possuir-se um central esquerdino (por exemplo, o Benfica também joga com dois centrais destros) mas que o espaço se torna mais amplo, lá isso é verdade. Daí a contratação de Otávio Ataíde fazer sentido não numa lógica de curto-prazo (Pepe e Fábio Cardoso têm dado conta do recado) mas com os olhos postos no futuro e com a perspetiva de se afinarem os procedimentos nessa zona em específico.

Sim, porque para os lados do Dragão ainda se vive na primeira temporada pós-Otávio e Uribe. Que implica reconstrução plena através de dois novos elementos (Varela e Nico) que, sem culpas no cartório, são naturalmente diferentes daqueles que os antecederam. Aliás, enveredar por uma lógica de troca de peças “pura e dur”a seria um erro de palmatória dentro de um quadro de plena potenciação individual dentro da tal teia coletiva que é necessário preservar.

Há também o argumento de que, para os lados do Dragão e fruto das circunstâncias de mercado, a reconstrução se faz temporada após temporada. Mas a componente da sustentabilidade também entra na engrenagem: as equipas têm de ser reconstruídas com os olhos no desempenho futuro, até porque só reparar a questão do miolo significaria um tendente enfraquecimento dos demais sustentáculos da equipa.

Com uma desvantagem não significativa nas contas da liga mas ainda assim saliente, o FC Porto lança as amarras para o futuro. Até porque, valha a verdade, a equipa atual está muito arranjadinha do meio-campo para a frente. E interessante na retaguarda, com perspetivas de melhoria. O mar ainda não é todo azul mas a navegação já é agradável. As grandes ondulações já ficaram para trás.

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