A humildade e a união do plantel do Marítimo da Graciosa garantiram, até agora, a invencibilidade em todos os 14 jogos das competições distritais da ilha açoriana, da Associação de Futebol de Angra do Heroísmo.
“Há um espírito de equipa, em que toda a equipa colabora, toda a gente trabalha para o mesmo e com isso, às vezes, conseguem-se coisas impensáveis. Por exemplo, hoje tenho jogadores de férias e estão a pintar no clube. Estou a olhar para o meu lado e acho que isso explica os resultados”, afirmou o presidente do Marítimo da Graciosa, enquanto alguns futebolistas colaboravam na pintura da sede do clube.
Em declarações à agência Lusa, Elder Spínola reconheceu que esta disponibilidade “não é muito normal”, acrescentando que na véspera já teriam colaborado no corte da relva nas imediações das instalações, mas representa a satisfação dos mesmos com os responsáveis do clube.
O Marítimo, de Santa Cruz da Graciosa, não perdeu qualquer um dos 14 jogos disputados frente aos “rivais” Graciosa FC e Luzense – os únicos adversários na série da ilha açoriana – e, depois de ter ganho a Taça de Abertura, já garantiu o apuramento para a fase final da competição regional, cujo vencedor poderá subir à série Açores da III Divisão.
“Até por isso, estamos a ganhar mais alguns sócios, que tinham deixado de o ser, porque não tinham gostado da forma como as coisas correram na série Açores. Noto que há um regresso das pessoas ao clube. As vitórias e estar sem derrotas ajuda muito”, explicou Elder Spínola, salientando que as “boas assistências” ascendem a “cerca de 70 a 80 aos domingos, quando aparece mais gente” e que os sócios já são quase 300.
Com um orçamento para a corrente época de cerca de 10 mil euros, que conta com a ajuda de alguns sócios, o treinador do clube, Rui Cordeiro, avalia positivamente os resultados, “porque o segundo classificado ficou a 12 pontos”, apesar das dificuldades de motivação e até de manter a regularidade dos treinos.
“A regularidade para os treinos é a maior dificuldade que eu sinto, porque só treinamos três vezes por semana e, como temos muitos fins de semana sem jogar, precisávamos de treinar mais e é bastante complicado para manter o ritmo”, frisou o técnico e funcionário público, de 51 anos.
Já o presidente do Marítimo destacou as “muitas dificuldades” em recrutar jogadores “numa ilha com cinco clubes e apenas cerca de 4.000 habitantes, com uma população envelhecida, sobretudo para os escalões de formação”.
“São todos trabalhadores, exceto dois ou três que ainda estudam”, frisou o treinador da equipa, que considera ter uma tarefa mais complicada do que os profissionais: “O que é difícil é treinar estas equipas amadoras, isso é que é difícil, porque é fácil treinar e saber que se tem 20 jogadores, agora nós corremos o risco de ter apenas 11 ou 12 jogadores. É preciso motivá-los e ter um bocadinho de pachorra”.
Sem pressão de ganhar, Rui Cordeiro, que na última época levou os “azuis e brancos” da Graciosa ao triunfo na Taça Região Autónoma dos Açores – disputada por formações de seis ilhas, sem representantes de Santa Maria, Flores e Corvo – promete “fazer o melhor” na fase final diante dos vencedores das séries distritais da Terceira (Barreiro) e de São Jorge (Marítimo Velense ou Velense).
“Ninguém me pediu nada, ninguém me meteu uma faca às costas e vamos tentar fazer o nosso melhor, que passa por tentar ganhar, sabendo que não será fácil, mas também não há jogos fáceis”, rematou o técnico da formação açoriana, que juntamente com o Grupo Desportivo de Monte do Trigo, da Associação de Futebol de Évora, ainda não perdeu esta temporada.