loading

Comandante militar timorense alerta para crescente preocupação com crise no país

O chefe das Forças Armadas timorenses pediu «coragem» aos líderes históricos do país para que ajudem a ultrapassar as divergências pessoais, partidárias ou institucionais que, lamentou, geram desilusão, desmotivação e «muita preocupação», inclusive entre os militares.

Comandante militar timorense alerta para crescente preocupação com crise no país

Numa carta enviada a vários dos principais líderes do país, e a que a Lusa teve hoje acesso, Lere Anan Timur refere um conjunto de “efeitos negativos” da crise política dos últimos três anos em Timor-Leste.

“Representando o sentimento dos oficiais generais e oficiais superiores das F-FDTL [Forças de Defesa de Timor-Leste], apelamos aos líderes nacionais que ligam o nosso passado histórico à condição atual da política de Timor-Leste para que tenham a coragem para melhorar o que está bem e mudar o que está mal, com a serenidade e a firmeza que se impõe para o engrandecimento do nosso país”, escreve na carta.

Lere refere uma lista de “efeitos negativos” na população, onde tem crescido “um sentimento de desilusão, desmotivação e muita preocupação face ao futuro”.

Entre outras questões, refere o “aumento da influência de grupos de artes marciais e rituais na atividade política”, com membros dos grupos ativos em partidos “manietando, chantageando e pressionando agentes políticos para a adoção de medidas que lhes sejam favoráveis, normalmente em desfavor da maioria da população”.

Lere Anan Timur refere ainda a “pressão de entidades ou agentes políticos com ligações a interesses externos e mesmo sentimentos pró autonomistas e pró-integracionistas”, aumentando o sentimento de que “os atuais governantes e líderes políticos não são capazes de conduzir os destinos de um país que libertaram e ajudaram a criar”.

Ao mesmo tempo, sustenta, tem havido uma “degradação das condições de vida da população” a vários níveis, da saúde à habitação, saneamento básico, salários, empregos e outras questões “essenciais para a existência digna de qualquer cidadão”.

Nepotismo e “puro favorecimento” a melhores condições de educação, bolsas e empregos é outro dos problemas atuais, na opinião do comandante.

Aponta ainda “a incapacidade das lideranças políticas, de alguns líderes históricos, em que se depositaram muitas das esperanças do povo, que foram capazes em situações bem mais difíceis de contornar todos os obstáculos”, mas que agora “não conseguem encontrar uma solução estável e duradoura, que propicie a estabilidade e tranquilidade necessárias à criação de um clima de confiança e crença num futuro melhor”.

Lere Anan Timur menciona também a falta de condições dos veteranos, o desinvestimento nas Forças Armadas, que continuam dependentes de apoios externos, e a funcionar em “instalações insuficientes e sem condições”.

“Esta situação tem levantado a preocupação e constante inquietação de uma grande parte dos militares, especialmente daqueles que lutaram por um país livre, pelo desenvolvimento das condições de vida dos seus compatriotas”, escreve.

“Não esquecendo a sua qualidade e obrigatoriedade constitucional de se manterem apartidários, conscientes da sua importância para a garantia da estabilidade e segurança, a sua condição de cidadãos leva-os a questionar diariamente os seus comandantes”, comenta.

“É este estado atual da situação social e política que está na origem da desilusão, desmotivação e algum sentimento de insatisfação dos militares”, considera ainda.

Motivo pelo qual, explica, os militares e membros das F-FDTL apelam aos líderes históricos do país para “mais um supremo esforço no sentido de ultrapassar divergências pessoais e partidárias ou institucionais para ajudar a ultrapassar o impasse político atual e resolver os problemas, devolvendo a confiança e esperança ao povo, afastando potenciais riscos ou ameaças à unidade nacional ou mesmo ao país".

O chefe das F-FDTL considera que nos últimos três anos Timor-Leste tem vivido um “período de estagnação e mesmo recuo no seu desenvolvimento devido à situação de instabilidade e impasse político”.

Uma situação causada, considera, por “falta de diálogo entre os intervenientes políticos com maior responsabilidade” e pela “submissão de interesses coletivos e nacionais a interesses pessoais e partidários".

O período foi ainda marcado pela “pouca colaboração e cooperação entre os principais órgãos políticos” e por “tempo perdido em disputas legais e processuais” que em nada têm ajudado a ultrapassar os problemas, escreve.

A situação foi agravada pela pandemia de covid-19, que poderia ser uma “oportunidade para unir o país no esforço de a vencer”, mas que “pode estar a ser desperdiçada”

A carta está endereçada, entre outros, ao Presidente da República, Francisco Guterres Lu-Olo, ao presidente do Parlamento Nacional, Aniceto Guterres Lopes, e ao primeiro-ministro, Taur Matan Ruak.

Foram também enviadas cópias para Xanana Gusmão, presidente do Congresso Nacional da Reconstrução Timorense (CNRT), para o ex-Presidente da República José Ramos-Horta e para o secretário-geral da Frente Revolucionária do Timor-Leste Independente (Fretilin), Mari Alkatiri.

Igualmente endereçados estão o ministro da Defesa, Filomeno Paixão, e o assessor do chefe de Estado, Roque Rodrigues.

Siga-nos no Facebook, no Twitter, no Instagram e no Youtube.

Relacionadas

Para si

Na Primeira Página

Últimas Notícias

Notícias Mais vistas

Sondagem

Roger Schmidt tem condições para continuar no Benfica?