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O frango de Baró não incendiou a churrascaria

Artigo de opinião de Gil Nunes.

O frango de Baró não incendiou a churrascaria
Futebol 365

Não há derrotas que vêm por bem, nem nada disso se pretende para os lados do Dragão. Acontece que ambos os desaires – Benfica e Barcelona – apareceram de uma forma algo bizarra. Fortuita. Erros de um Euromilhões jogado ao contrário. Relacionados com a falta de definição individual dos jogadores ou com alguns detalhes que são apanágio de uma equipa que está no forno do seu processo evolutivo. Ano após ano, Sérgio Conceição tem de ir ao frigorífico, definir nova receita, e apresentar à malta um jantar de arromba feito não com os ingredientes mais suculentos, mas com aqueles que estão disponíveis no momento. Algo que tem sido habitual. Sendo que a tendência é para melhorar. Técnico de elite.

Qual o principal perigo de se perder frente ao Benfica nesta fase da escalada? O tónico emocional que o adversário adquire naquela perspetiva de que, no confronto direto, somos melhores e não há dúvidas acerca disso. Algo que não acontece entre dragões e águias: a derrota do FC Porto aconteceu no seguimento de uma expulsão que desequilibrou as peças do xadrez e tornou o filme completamente diferente daquele que era perspetivado quando se entrou no cinema. E a derrota diante do Barcelona? Sim, é um facto que o primeiro lugar do grupo fica mais complicado mas a qualificação para os oitavos nem por isso. Os dragões estão num patamar acima de Shakthar e Antuérpia e, em condições de normalidade, vão ter luz verde no semáforo dos milhões. Tranquilidade precisa-se. Serenidade.

Não são só os guarda-redes que dão frangos. Que cometem asneira da grossa. A displicente ação técnica de Baró é reprovável do ponto de vista do laxismo em si mas não é, por si, a causa imediata de um golo que ditou o desfecho final. Porque após a dita asneirada ainda havia 50 metros para percorrer e a equipa não respondeu em conformidade para estancar uma hemorragia que, noutras circunstâncias (Pepe e Marcano), poderia ter sido eliminada como água da chuva na sarjeta. É certo que nem Fábio Cardoso e David Carmo são rápidos nem vão tombar no caldeirão mágico da velocidade. No caso, e no particular de David Carmo, tratou-se de uma questão de falta de aceleração naquele momento certo. Naquele carreto de bicicleta que, acionado naquele segundo, poderia ter provocado outra coisa que não aquela que aconteceu. O golo do Barça. O mata-mata.

Já diz Mandela que “ou ganhas ou aprendes”. Sobre o atual FC Porto, a principal nota a reter é o facto de haver muitos aspetos positivos que são consequência de horas de trabalho comprováveis em termos de desempenho coletivo. Desde logo a criação de uma linha de três médios (Varela, Eustáquio e Baró) que, durante cerca de vinte minutos, colocou em xeque a organização do Benfica e, diante do Barcelona, permitiu saídas de pressão e inícios de construção de máxima competência. Com João Mário muito exposto pelo flanco direito e Wendell a mostrar habilidade na posse de bola (e na articulação minuciosa com Galeno), tudo se calibrou com o recuo estratégico Taremi e a personificação de Pepê como explorador da profundidade daí resultante. Sendo que a partir daí os detalhes são ópera: fosse através de um desvio mais para a esquerda ou por um resguardo corporal mais evidente e não teria sido desarmado por Koundé. Teria sido golo. São detalhes, senhor. Como aqueles que ditaram a eliminação do Inter: onde faltou um tempo de salto, um cruzamento mais baixo. Ou aquela definição que, num jogador de elite, é absolutamente natural e que num jogador que não é de top tem de ser repetida ao expoente do rigor do treino. Até sair perfeita ou perto disso.

Isto numa altura em que o FC Porto vai regressar a um novo quadrante: jogos diante de equipas menos poderosas, onde tem de fazer prevalecer a lei do mais forte e desembrulhar as partidas de uma forma fácil. Sim, porque as vitórias ao sprint com recurso ao “photo finish” têm de acabar, sob pena de se transformarem em empates. Se a saída de Otávio deixou, entre outros fatores, a equipa menos capaz ao nível da exploração do jogo entrelinhas (Pepê causa imensos desequilíbrios mas ainda lhe falta maior astúcia nessa zona específica do campo), a questão passa por se encontrarem soluções para que esse handicap seja camuflado com outras armas que, numa lógica de sistema, acabem por causar outras crateras que sejam avassaladoras e asfixiantes para o adversário.

Se o FC Porto precisa de se reforçar com centrais? Sim. Isto apesar da boa notícia ter sido o fiel desempenho de Zé Pedro na Luz. Se a dinâmica ofensiva ainda não está compaginável com aquilo que se pretende de um candidato ao título? Também. Mas a questão passa mais pela análise do contexto: estamos em outubro. Se é para se cometerem erros, que se cometam agora, até porque a equipa técnica tem capacidade para desenvolver os seus recursos de forma inequívoca, como já viu no passado. Luis Diaz ganhou asas. Diogo Costa também. E a pesca foi, de facto, principalmente feita nos ribeiros da equipa B ou nos lagos das equipas de média dimensão, mediante análise astuta e atenta. Pontaria certeira.
É claro que as lesões – Pepe, Marcano e Evanilson sobretudo – não ajudam. Sobretudo numa altura em que novos protótipos entravam em cena – 3x5x2 da Amadora – especificamente definidos para a liga portuguesa e por aquelas que devem ser soluções ofensivas mais versáteis. Diferentes. Mas do túnel chega a luz: Benfica e Barcelona trouxeram aquela positiva sensação de que é no detalhe que se fabricam as vitórias. A luzidia pedagogia no empedrado da derrota. De onde se constroem as mais sólidas estradas. O melhor dragão ainda está para vir.

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