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Os guardiões do Castelo do Dragão

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Os guardiões do Castelo do Dragão
Futebol 365

Mais do que um FC Porto que, muito embora criando com frequência, não está avassalador no que ao processo ofensivo diz respeito, a questão mais preocupante parece residir na defesa. Sobretudo na zona central, depois dos meteoritos das lesões terem provocado a abertura de duas crateras: uma relacionada com Pepe (ultrapassável num futuro próximo) e outra que adveio de uma circunstância inesperada: Marcano no “estaleiro” até final da temporada. Infortúnio a bater à porta com estrondo.

Ao nível da primeira equipa, sobram dois jogadores de características completamente diferentes – Fábio Cardoso e David Carmo – que apresentam um denominador comum nos seus eixos: não são propriamente rápidos. Sentem algumas dificuldades no controlo do espaço à retaguarda, sendo que o problema se agudiza quando o mesmo se torna mais amplo. Não que seja propriamente uma situação de crise. Uma pneumonia. No entanto, esta constipação traz consigo alguma instabilidade, sobretudo quando é necessário enfrentarem-se os ditos tubarões. As equipas mais fortes. Diante do Benfica também se constatou, mas sobretudo ante o Barcelona: é certo que Baró comete um erro grosseiro mas há cerca de meio-campo para a jogada ser estancada. Algo que não aconteceu.

No meio da crise, no cerne do problema, há sempre alguém que se vai safar. Emerge Zé Pedro em circunstâncias especiais – com 10; frente ao Benfica; em pleno Estádio da Luz! – algo que acabou por se revelar como a notícia do mês. Se o seu recrutamento ratificava qualidades apreciadas pelo técnico, o que ninguém esperava é que, ao nível da componente emocional e do controlo da pressão, Zé Pedro não vacilasse. De tal forma que, na Luz, foi mesmo dos melhores em campo e um verdadeiro tampão às investidas do Benfica pela zona central. Mas Zé Pedro (e viu-se nos jogos seguintes) é muito mais do que isso: veloz, consegue recuperar à retaguarda com facilidade; sabe sair a jogar, pisar zonas adiantadas e não se atemoriza na altura de construir; e, inclusive, assume a responsabilidade na hora das bolas paradas. Trata-se de um central com muita ofensividade no seu ADN, algo que é fundamental no esqueleto de uma equipa grande. Ora, já se sabe que circunstâncias especiais motivam reações excecionais: daí Sérgio Conceição não ter hesitado na altura de pegar no telemóvel e entrar em direto no “Futebol Total” do Canal 11. Abertura de uma fenda com o firme propósito motivacional: puxar Zé Pedro para a frente. Se o contexto provocou oportunidade, nada melhor do que continuar a usufruir da força da onda e, em termos coletivos, resolver uma série de problemas. E o jogo da Luz não representou um epifenómeno. O exemplo mais fresco vem direitinho do jogo da Taça de Portugal: envolvimento na dinâmica ofensiva que permitiu, de forma indireta, espaço para Zé Mario explorar e abrir linha de tiro na zona central, aproveitada devidamente por André Franco. O novo lateral esquerdo.

No meio de um FC Porto que se refrescou com reforços de qualidade, o lado esquerdo da defesa não foi alvo de grandes alterações. É certo que, de momento, não será um dos pontos fortes da equipa mas há uma verdade que parece indesmentível: Zaidu e Wendell complementam-se. Se um (Zaidu) é sinónimo de velocidade, força física e recuperação rápida, o outro (Wendell) apresenta muita qualidade em posse, algo que potencia a dinâmica da equipa e se reflete em golos. Aliás, mesmo nesta temporada e sobretudo nos períodos de maior desnorte, as incursões de Wendell pela zona central por pouco não resolveram o problema: Leia-se empate em casa diante do Arouca.

Em Vilar de Perdizes, o processo de experimentação de André Franco na nova zona revelou-se bem-sucedido. Quer pelo golo, quer pela assistência, mas sobretudo pelo critério que oferece num contexto do FC Porto marcado por uma premissa fundamental: o conceito de lateral esfuma-se quando a equipa está tanto tempo por cima de um bloco baixo pelo que o lateral é, no final das contas, um ala ou um médio. Por conseguinte, se temos um médio esquerdino que pretendemos que passe mais tempo no lote dos escolhidos – até porque tem muito golo nos pés– a sua adaptação acaba por ser um processo contranatura que, no fundo, não o é. Acaba, isso sim, por ser natural dentro daquilo que é uma equipa grande que tem processos definidos para se impor de forma soberana em mais de 90% dos seus embates.

Se a adaptação de André Franco ainda pode ser só a ponta do icebergue – Zaidu a central já foi uma solução provisória em diferentes partidas – há que espreitar o outro lado da defesa. Onde a contratação de Jorge Sanchez trouxe o benefício direto da concorrência direta a João Mário mas, sobretudo, trouxe um benefício por debaixo da mesa: a fixação de Pepê em zonas mais adiantadas, carimbando a sua deslocação para a posição de lateral apenas em situação de emergência. Não que não a cumpra, é certo, sendo que até recebeu rasgados elogios do seu técnico. Mas há setores mais altos que se alevantam. Que carecem de Pepê e da sua exímia capacidade técnica.

E o Dragão, neste momento, precisa de absorver os frutos emocionais que advieram dos últimos jogos grandes. Onde não foi inferior e apenas os perdeu por situações de excecionalidade que podem ser contrariáveis através, sobretudo, de uma maior atenção ao detalhe. E de onde surgiu um ator inesperado: Zé Pedro. Que noutras circunstâncias não teria brotado com a mesma determinação. Direto ao onze. Sem rodeios. Estou aqui. E quero aproveitar a maior oportunidade da minha vida.

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