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FC Porto: Yes we conseguimos

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: Yes we conseguimos
FC Porto

Sangue gelado e a real constatação do processo evolutivo de uma equipa que vale muito mais do que o 3º lugar da liga portuguesa. O FC Porto. Que bloqueou um Arsenal que é um verdadeiro tubarão de Liga dos Campeões e - até mais importante do que isso - não concedeu uma oportunidade de golo ao adversário. Zero. É obra. E, como tal, a passagem aos quartos de final não é uma utopia. É possível. Perfeitamente possível.

Para lá da tática, a minúcia. A atenção ao detalhe. A concentração máxima em todo e qualquer momento do jogo. O degrau. O último degrau escrito em toda a parte: confiança. Muita confiança. Se, a nível interno, os dragões têm sentido na pele essa falta de radar permanente, na Europa o panorama tem sido menos grave, muito embora os jogos diante do Barcelona tivessem servido de plataforma de aprendizagem. No dia 21 de fevereiro nada faltou. E foi ver Nico e Francisco Conceição, por exemplo, a não terem qualquer problema em levarem com um cartão amarelo depois de faltas providenciais, na zona certa. Ou então aquela contenção inteligente de quem chegou um segundo atrasado e não pretende estragar tudo com uma entrada à queima. Acima de tudo, os dragões venceram e não se puseram a jeito do imponderável. Não se puseram a jeito de perder. Puseram-se, isso sim, a jeito de vencer. Golaço de Galeno. Que, pelas suas características e pelo seu mérito – aparecimento na zona central a finalizar, recuo para compensação ao lateral (ou mesmo lateral) ou em total sintonia com Diogo Costa – é o jogador do FC Porto em foco nesta Liga dos Campeões. E não é de agora.

Na antevisão do jogo, Sérgio Conceição destacou a coesão defensiva como possível chave do êxito. É certo que o prematuro amarelo a Rice deu uma ajuda mas a tal consistência ficou patente em todos os momentos: fosse no rápido recuo para a construção de uma linha de quatro médios aquando da transição ofensiva adversária ou no constante ajuste para evitar que Odegaard ganhasse supremacia no espaço entrelinhas, nada faltou. Também nada a dizer ao nível de outro aspeto que, por vezes, trama os dragões: a exposição às variações de flanco, fruto de algum desequilíbrio nesse momento em particular. Sobretudo quando era de vital importância condicionar os perigosos alas do Arsenal. E com Wendell e João Mário no onze, eles que são excelentes no processo ofensivo mas menos salientes a defender. Nada a apontar. Hoje, reforce-se, nada faltou. Tudo no sítio certo. Sem alvoroços. Provocados ou advindos do próprio contexto de se estar a enfrentar uma das melhores equipas da Europa. Brilhante.

E até um extra que tem sido apanágio dos últimos jogos: o recuo estratégico de Evanilson, a ganhar linhas de passe e a indiretamente puxar os seus companheiros para desmarcações nas suas costas. Também no capítulo ofensivo, foi resultando outro aspeto essencial: a atração do adversário para o lado esquerdo, com o intuito de dar uma “puxada” ao jogo pelo flanco contrário – assim o FC Porto virou o jogo diante do Antuérpia. Sendo que é mais fácil aplicar-se esta medida aos belgas e, logicamente, mais complicado frente ao Arsenal.

Diogo Costa é o suspeito do costume. Dá um jeito brutal ter nas redes um guarda-redes notável a jogar com os pés – até com destreza assinalável a jogar com o pé esquerdo – que permite que a equipa nunca fique sôfrega quando tem rapidamente de sair de zonas de pressão. E o guarda-redes portista não sucumbiu a uma espécie de receita marroquina que o Arsenal tentou implementar: muita bola ao segundo poste, nas costas do guardião, com o intuito de fazer ressuscitar o golo de En – Nesyri no mundial. Vezes sem conta e uma resposta absolutamente irrepreensível. Obstáculo emocional que passou a constar do baú das recordações. Das aprendizagens.

Para além da excelente exibição de um miolo portista que nunca se desintegrou – leia-se também papel dos alas na solidez da transição defensiva e afastamento de possíveis cenários de desequilíbrio numérico nesse setor – saliência para a estreia de Otávio nas lides europeias. Sem qualquer tipo de hesitação ou receio, contribuiu para o renascimento de um aspeto essencial: a construção a partir da zona central feita por um central esquerdino. Uma situação que, por muito elementar que seja, dá uma abrangência de soluções muito maior, que positivamente contagia a equipa para novas linhas de passe, também ilustradas por outro elemento – Nico González – tremendamente eficaz na potenciação de movimentos sem bola que dão também seguras linhas de passe à equipa. Pepê (recuos estratégicos) ou Varela (em progressão) que o digam. Saliência também para a entrada em jogo de Iván Jaime – o médio espanhol vai ganhando o seu espaço e cotando-se cada vez mais como a alternativa direta a Nico, sobretudo pela criatividade que acrescenta em todas as suas ações – que poderá ser determinante diante de blocos mais baixos – competições internas.

Se esta vitória foi um pontapé na crise? Não. Aliás, tal é constatável por um onze relativamente consolidado, algo que não seria possível se a equipa estivesse assim tão instável. Não há empate ou derrota que cortem a raiz a um pensamento base que está assente num processo que não dará as vitórias todas, mas que possibilitará uma assinalável cadência de triunfos. É por aí.

E um passo de cada vez. Refrear o entusiasmo. Euforia nas doses certas é a receita perfeita. Porque, friamente falando, é mais provável o FC Porto não ganhar a Liga dos Campeões do que vencê-la. Agora, sonhar nas doses certas nunca fez mal a ninguém. Até pode dar para rumar aos quartos e deixar o Arsenal pelo caminho. Aquele ponto em que o sonho se transforma em realidade. Nua e crua.

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