Os clubes da Liga chinesa de futebol investiram este ano centenas de milhões de euros na melhoria das suas equipas, tentando elevar a qualidade de um dos raros produtos ''made in China'' sem grande saída internacional.
A contratação de dezenas de técnicos e jogadores estrangeiros, entre os quais o ex-internacional francês Nicolas Anelka, ajudará também a reconciliar o público chinês com o futebol, depois de anos de profunda corrupção e maus resultados.
Pelas contas do China Daily, o referido investimento ultrapassou os 2,6 mil milhões de yuan (313,2 milhões de euros) e só o atual detentor do título, o Guangzhou Evergrande, tem um orçamento anual de 700 milhões de yuan (84,3 milhões de euros).
''Neste momento, o futebol é como um doente. Espero que todos possam dar o seu apoio, fazer propostas construtivas e ajudar a Super Liga a erguer-se dos escombros'', disse o presidente da Associação Chinesa de Futebol (ACF), Wei Du, numa mensagem difundida no fim de semana, na abertura oficial da época.
A Super Liga chinesa, disputada por 16 equipas, entre março e novembro, é a mais importante competição futebolística da China.
Dezenas de árbitros, jogadores e dirigentes desportivos foram condenados a vários anos de prisão por aceitarem subornos para falsificar resultados, mas os dois principais alvos da ''campanha de retificação do ambiente desportivo'' lançada no final de 2009 - ambos antigos vices-presidentes da ACF - ainda não foram julgados.
A corrupção afastou o público dos estádios, a própria Televisão Central da China (CCTV) deixou de transmitir os jogos e desde 2002 a seleção chinesa falhou sempre a qualificação para a fase final de um Mundial.
Este ano, treze equipas são orientadas por estrangeiros, num número sem precedentes desde de que o governo chinês deu autorização à profissionalização do futebol, há cerca de 20 anos.
O francês Jean Tigana, por exemplo, dirige o Xangai Shenhua, o novo clube de Anelka, e os portugueses Jaime Pacheco e Nelo Vingada orientam o Beijing GuoAn e o Dalian Shide, respetivamente.
Entre os jogadores estrangeiros sobressai o trio sul-americano do Guangzhou Evergrande, que, na semana passada, no primeiro jogo da Liga dos Campeões Asiáticos, foi à Coreia do Sul bater o Jeonbuk Motors, campeão em título, por 5-1.
O trio é composto pelos avançados brasileiros Cleo e Muriqui e o médio argentino Conca.
Propriedade de um dos empresários mais ricos da China, Xu Jiayin, o Guangzhou Evergrande é também dos que paga melhor aos seus jogadores.
Por cada vitória na Liga, o plantel recebe três milhões de yuan (361.640 euros) e na Liga dos Campeões Asiáticos o prémio é a dobrar.
''Os jogadores chineses devem ganhar melhor, para atraírem mais jovens à modalidade'', defende o ''patrão'' do Guangzhou Evergrande.
Promotor imobiliário, com uma fortuna estimada em 43 mil milhões de yuan (5,1 mil milhões de euros), Xu Jiayin é também membro da Conferência Politica Consultiva do Povo Chinês, uma espécie de senado, sem poderes legislativos.