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Jorge Jesus e um Benfica 'made in' Benfica: Uma história impossível!

Por muito que o treinador do Benfica procure fazer gestão de danos, não há maneira de Jorge Jesus evitar o reforço de uma característica muito particular da sua reputação: a aversão à aposta em jogadores formados nos encarnados. Jesus não lança a prata da casa (pelo menos por vontade própria). Ponto final.

Jorge Jesus e um Benfica 'made in' Benfica: Uma história impossível!

As recentes declarações sobre a saída de Matic e a alegada incapacidade da formação em colmatar a ausência do sérvio mostraram, essencialmente, uma coisa: sinceridade. Quando Jesus disse que os jovens do Benfica teriam de «nascer dez vezes» para substituir o reforço do Chelsea estava de rédea solta. Nessas declarações havia apenas Jorge Jesus e as suas convicções.

Não existiam sequer resquícios de uma estratégia comunicacional concertada. Todos percebemos isto, muito por culpa dos contextos que o técnico português fomentou (e fomenta). Da ênfase dada às declarações em causa ao histórico de defesas de um Benfica multinacional na era da globalização, tudo contribuiu para a atual crise comunicacional. E esta foi francamente potenciada por uma das mais recentes, marcantes e acertadas declarações de Luís Filipe Vieira.

Logo a abrir o ano, em entrevista ao jornal A Bola, o presidente do Benfica lançou um repto forte, certamente preparado. Vieira assumiu-se como intérprete do «sonho de todos os benfiquistas» e projetou um «Benfica 'made in' Benfica». Uma expressão curta, simples, mas que representa uma promessa de estratégia. Mais, apresenta-se como uma estratégia alicerçada numa das críticas insistentemente apontadas aos encarnados (o subaproveitamento das camadas jovens). Algo tão radicalmente diferente cria expectativas em conformidade. Nos públicos externos, mas também nos internos. E é aqui que entram as reações de atletas como Filipe Nascimento e Bernardo Silva.

Estes dois jovens futebolistas formados no Benfica reagiram com naturalidade às declarações do treinador da equipa principal. Na era que também é das redes sociais, onde as esferas públicas e privadas estão mais diluídas do que nunca, não pode causar estranheza que dois rapazes de 19 anos se agitem contra sentenças que contrariam, por um lado, uma expectativa alimentada pelo líder do clube e, por outro lado, um sonho de qualquer jogador em formação.

Ninguém pode recriminar desabafos semipúblicos como o emblemático «nasceremos mais nove vezes se for preciso». Estas palavras podem não ser consonantes com a mensagem de um superior – Jorge Jesus –, mas, as que este proferiu, tendo mais responsabilidades, também não foram coerentes com as referidas declarações de Luís Filipe Vieira. Temos, como consequência, um problema de alinhamento estratégico e, porque não, de partilha e estruturação da própria marca 'Benfica'. Nem todos querem o mesmo e esta situação é um gerador de potenciais atritos.

Ontem, dois dos três jornais desportivos em papel tinham a formação do Benfica, direta ou indiretamente, como manchete. Compreensivelmente, o clube da Luz procurou fazer gestão de crise. As declarações exclusivas de Jorge Jesus ao Record – título que tem adotado a linha editorial mais próxima face ao atual líder do campeonato – e a entrevista do «caso de sucesso» Ivan Cavaleiro ao jornal A Bola foram duas formas encontradas para contrariar a atenção e o apoio dados às mensagens de Filipe Nascimento e Bernardo Silva.

A estas iniciativas juntam-se os esclarecimentos nas redes sociais dos atletas e do próprio clube, bem como a própria conferência de imprensa de antevisão do Benfica-Marítimo. A capa de hoje do jornal A Bola reflete essa estratégia. Um simples título – «Alinhado» – mostra os esforços para forjar uma perceção de consonância no seio da organização do Benfica.

Contudo, convém realçar um aspeto óbvio: por muito necessárias que sejam as medidas de contenção de estragos e de danos colaterais, o mais importante é a sua prevenção. E isto só acontecerá quando o rumo for claro e verdadeiramente partilhado por todos os públicos do Sport Lisboa e Benfica. O que parece inconcebível a curto prazo. Jesus e um Benfica 'made in' Benfica têm tudo para se tornarem histórias paralelas que nunca se cruzarão. As convicções sinceras do treinador estão nos antípodas do discurso oficial.

Este texto é resultado da colaboração semanal entre o Futebol 365 e o blogue marcasdofutebol.wordpress.com. Esta parceria procura analisar o desporto-rei a partir de um ângulo diferente: a comunicação.

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