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FC Porto: o último carreto da bicicleta

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: o último carreto da bicicleta
Futebol 365

Dar um passo à frente para dar outro atrás. E depois tentar dar outro em frente. Chegar ao último carreto da bicicleta: aquele que potencia a velocidade máxima e possibilita aquele pequeno passo que faz com que o Barcelona e o City possam ser derrotados com alguma frequência. Não sempre. Mas algumas vezes. É por aí.

Sobre o FC Porto, muito se tem falado (e bem) da questão em relação à atenção aos detalhes. Algo que tem sido complicado para os dragões nesta temporada em particular. Estoril, Benfica (ambas as vezes) e Barcelona (em casa). Só para dar alguns exemplos. E o momento dos golos clarifica, a montante, outra situação: Pepê marca o golo porque arranca primeiro e aproveita a falta de atenção de De Jong, que não o acompanhou. Pormenor. Que depois se replica do lado contrário: não é possível deixar-se Cancelo em situação de um contra um diante de João Mário. Vai dar asneira, sobretudo se ele pender para dentro (porque é destro). A falta de compensação é também originada pela grande qualidade individual do Barcelona mas também deriva de um contexto geral em que um coletivo, por muito forte que seja, precisa de se afinar ao milímetro para conseguir contrariar os mais poderosos da Europa. Nestes jogos não há outra forma de se ver as coisas.

Porque falta o dito último carreto da bicicleta. É aquela receção orientada que vai no sentido certo, mas com um pouco de força a mais ou a menos. Ou aquela hesitação na altura de rematar, que faz com que o defesa contrário recupere a posição e estanque a situação de perigo. É claro que o Barcelona também erra. E, se calhar e do ponto de vista coletivo, até mais do que o próprio FC Porto. A questão é que a equipa espanhola tem uma superlativa qualidade individual, capaz de corrigir possíveis lacunas e de se superiorizar nas alturas certas. O caso mais evidente é o do golo de João Cancelo: em condições normais, com qualquer outro jogador, o mais provável teria sido não ter acontecido final feliz. Com Cancelo pela frente não se pode pensar assim: jogador de top, vai dar golo. São questões, são milhões.

É lógico que não é muito fácil defender o Barcelona. O FC Porto tentou conter o jogo interior e a estratégia foi conseguida. Com Alan Varela e Eustáquio a cobrirem a zona central, restou ao Barcelona procurar as alas para atacar, com a particularidade de Zaidu e João Mário terem aparecido em espaços mais recuados, algo pensado para proteger a zona e, ao mesmo, procurar acelerações rápidas tendo em vista a eficaz ligação entre todos os setores. E uma boa notícia: em ataque organizado ou em contra-ataque, certo é que o FC Porto (sobretudo na primeira parte) conseguiu criar imensas situações de perigo na área contrária e, tivesse sido um pouco mais hábil na altura da finalização, a derrota poderia não ter aparecido. Destaque também para o impressionante jogo de pés de Diogo Costa. Que construiu o lance do golo. Atração dos jogadores do Barcelona para espaços definidos com o intuito de se proporcionar espaço à frente (ora Evanilson como pivô ora Galeno em velocidade) com a garantia de que o guarda-redes vai colocar a bola na zona exata. Sem mácula. Dá jeito ter um dos melhores do mundo na baliza.

No entanto, o Barcelona foi causando perigo num aspeto do jogo em que o FC Porto apresenta alguns problemas: a variação de flanco. A mudança repentina do centro do jogo. Aliás, puxando atrás, foi assim que o Benfica tentou ferir o FC Porto na segunda parte do jogo da Luz. Bola à esquerda, bola à direita, com o intuito de provocar desorganização no processo de compensação, isto numa equipa que, fruto de diferentes circunstâncias, não tem apresentado uma defesa estável. Se somarmos a esta condicionante uma equipa do Barcelona que possui um lado esquerdo temível e bem afinado – Cancelo e João Félix – podemos concluir que era inevitável não sofrer uma boa mão de oportunidades de golo.

Do ponto contrário, porém, o FC Porto também tentou usar as suas armas. Como baixar a equipa em determinados momentos com o propósito de providenciar o espaço necessário nas costas da defesa do Barcelona. Ou então puxar João Mário ou os médios para dentro, possibilitando diagonais agressivas de Galeno a partir do lado esquerdo. E são boas notícias: o FC Porto foi perigoso, soube ser versátil, explorar novas nuances do seu jogo, com aquela pequena grande agravante de quem precisa de um último puxão de qualidade individual para coser eficazmente o seu jogo coletivo.

O facto de tudo ficar adiado para a última jornada representa um espelho duplo: em primeiro lugar a constatação de que, neste grupo da Liga dos Campeões, em princípio tudo irá correr como o esperado: Barcelona e FC Porto são as melhores equipas, com ligeira superioridade para o lado dos espanhóis; mas, em segundo lugar, a existência do hemisfério do perigo: o Shakthar tem qualidade e há sempre aquela possibilidade de se ter um vermelho escusado ou um golo fortuito do adversário. Acima de tudo, perceber-se que a qualificação está longe de ser fechada. Tomar o jogo diante do Shakthar como determinante. Exibição sem mácula.

Até porque, para além dos milhões que estão em causa, a possível não-qualificação poderia representar um rude golpe em termos anímicos. E o FC Porto está em todas as frentes com perspetivas de crescimento. Liga dos Campeões representa, de forma indireta, todas as competições nacionais e em todos os seus quadrantes. Por isso, Shakthar é para tomar com pinças. Porque o futuro é já ali ao lado.

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