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Sp. Braga - Sporting: as portas que Ruiz abriu

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sp. Braga - Sporting: as portas que Ruiz abriu
Liga Portugal

E a meia-final da Taça da Liga foi decidida por Abel Ruiz. Que é um jogador diferente. Inteligência. Que sabe fazer a diferença não nas grandes ações mas sim nos detalhes que, no fundo, são montanhas na análise geográfica dos jogos. Puxe-se a cassete atrás e veja-se o play-off de qualificação para a Liga dos Campeões diante do Panathinaikos: um golo e, sobretudo, a tomada de iniciativa num lançamento lateral em que Abel Ruiz percebeu, um segundo antes que todos os outros, que a linha defensiva contrária estava desequilibrada. Que também deu golo.

É certo que as recentes prestações de Abel Ruiz foram pautadas pela ausência de golos. O que, numa realidade SC Braga onde pontifica o melhor marcador da Liga (Simón Banza), desagua na responsabilidade acrescida de se ver o eixo do ataque como sinónimo de golos. Muitos golos. Com o perigoso raciocínio imediato: se o avançado não marca golos então o Banza é que era. E sem o Banza não nos safamos. Ficamos mais fracos. O que não é verdade.

Mas a vitória do Braga diante do Sporting – algo discutível em face da produção ofensiva leonina – apresenta outro condimento essencial: o maciço cerco a Gyokeres, na maior parte das vezes marcado mesmo por dois ou três elementos bracarenses. Que esbarra de forma flagrante com uma suposta máxima de equipa grande: como não receamos nada nem ninguém, não vamos realizar marcações individuais aos craques da equipa contrária. A ocupação inteligente dos espaços permite que as feras sejam controladas. Porque tem de ser assim.

Ou talvez não. Se, já na conferência de imprensa, Artur Jorge concedeu lugar de destaque ao avançado sueco, no jogo não fez por menos. E, feitas as contas, o técnico dos bracarenses tem, porventura, toda a razão do mundo em adotar uma postura de sinceridade (não se leia subserviência): se o Sporting vive muito da capacidade física/explosão de Gyokeres, nada como anular esse eixo de força, sobretudo quando o mesmo atributo é completamente diferenciado em relação ao que acontece na liga portuguesa. Se ninguém descobriu a fórmula, vamos anulá-la como der nem que seja colocando um ninho de vespas em permanência a gravitar no espaço de Gyokeres. Radical sê bem-vindo.

E há o irónico da questão. Isto porque o atual Braga é conhecido por ter uma equipa e peras do meio-campo para a frente e apresentar a sua debilidade na retaguarda, exceção feita ao guarda-redes. Mas quem tem lacunas na organização defensiva, pode sempre cerrar os dentes, agarrar o seu homem e amordaçar o adversário. E vamos embora sem medo. Se o Sporting teve alguma infelicidade? Sim, teve. Apesar dos ritmos do meio-campo não serem os melhores mas também não serem catastróficos, a ausência de Morita faz-se sentir: no fundo, o meio-campo nem é um barómetro nem é um terramoto. E quem fala de construção leonina, fala também do papel dos centrais nesse processo: com a novidade Eduardo Quaresma a ser uma das melhores notícias da época: sobretudo porque, sem St Juste, é sempre útil ter um central capaz de promover acelerações no primeiro terço, capaz de representar o polo de desequilíbrio a partir da retaguarda.

Todavia, a lacuna (ou se calhar falta de polimento = falta de recursos) centra-se na deslocação de Pedro Gonçalves para a zona central, até porque o elemento em questão (e bem) tem golo e finalização nos pés e o seu ADN natural passa sempre por progredir em direção a zonas mais propensas à finalização ou à criação. Ou então abordar-se a génese do golo contrário: ponto em comum em relação ao que aconteceu diante do Vizela e com o mesmo interveniente: Ricardo Esgaio. Cruzamento largo ao segundo poste com falta de cobertura (pelo menos embate próximo) com o finalizador em questão. Sendo que a basculação dos centrais para impedir este desiderato também tem de ser colocado à reflexão. Por uma dupla questão: se é sempre “positivo” entender que os golos surgem da mesma maneira – a descoberta do antídoto é sempre mais fácil – gera-se a tarantela quando o filme é repetido ao expoente do razoável. Como se os adversários percebessem, de antemão, que a equipa tem alguma renitência na rápida estancagem da hemorragia.

A questão histórica e contextual também dá de si. Sim, porque o Braga é um “grande” relativamente recente, que necessita urgentemente de títulos para se consolidar. De colocar gente na rua. De ter jovens a irem para a escola com o cachecol dos guerreiros. Para se promover, a longo-prazo, uma renovação geracional que permita o constante crescimento do clube. É certo que o Sporting também vive de títulos mas a questão é diferente: nada invalida uma época fantástica e excelentes perspetivas para o futuro. Até porque, valha a verdade, o Sporting voltou a não ter a fortuna do jogo no seu baú. Porque a estrutura está toda lá: não houve 4º lugar que cortasse a raiz ao pensamento de Rúben Amorim. E a quem crê tudo é possível.

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