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Benfica: II Cimeira das Caldas

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: II Cimeira das Caldas
Liga Portugal

O paradigmático caso de Roger Schmidt. Se, quando ganha, até apresenta um discurso redondinho capaz de não causar problemas à sua equipa, quando perde a coisa vira o bico ao prego. Sempre tudo ao lado, como se entrasse num silencioso estado de calamidade interior, dizendo tudo o que lhe vem à cabeça sem qualquer tipo de filtro. Sendo que o problema não é o imediato (o situacional) mas antes as profundas repercussões a longo-prazo. Deixa marcas, provoca feridas.

De facto, não é nenhuma vergonha o Benfica ser eliminado pelo Estoril. Como também não seria para qualquer um dos outros grandes. A questão é que o treinador do Benfica deve considerar tal facto uma anormalidade e não quase um fator de causa. Mas nada vem de agora: há cerca de um ano, quando o Benfica eliminou o Caldas da Taça de Portugal no desempate por grandes penalidades, Schmidt alegou que tal não seria um cataclismo. Ou seja, mais do que as suas afirmações serem contraproducentes (ou pelo menos discutíveis), há o registo de que a estrutura de comunicação dos encarnados, muito provavelmente, também não deu o toque a Schmidt para mudar a tónica do seu discurso em situações semelhantes. Porque a comunicação de momento também deve ter o mínimo de preparação.

É que o Benfica saiu de um estado de alarme – resultados periclitantes – há bem pouco tempo e convém não se ter uma tendência para se reatearem os fogos. Até quando os mesmos pareciam extintos. Depois, os encarnados reforçaram-se que nem ginjas no mercado de inverno: vieram Marcos Leonardo, Rollheiser e agora Carreras. Não há desculpas para os títulos não aparecerem. E os contornos de uma derrota diante do Estoril – compreensível no contexto do futebol em si mas menos compreensível no cerne de uma equipa que tem tudo e mais alguma coisa – ganham apêndices que seriam escusados. E passamos novamente para o montante do cenário: é que se o Benfica não ganha seja o que for nesta temporada (exceção à Supertaça que já está no museu), então Schmidt fica em apuros. Afinal de contas, ganhou a liga do ano transato por acaso e este ano veio à tona a sua verdadeira identidade.

Todo o raciocínio anterior não tira uma pinta de mérito a um Estoril bem estruturado e repleto de excelentes jogadores. Na realidade, é quase como se fôssemos obrigados a olhar duas vezes para a classificação e aferir se, de facto, os canarinhos estão mesmo em 15º lugar. Em termos de jogo em si, a estrutura de três centrais limitou o espaço na zona central ao mesmo tempo que a exponenciação dos laterais fez com que o Benfica ficasse um pouco refém da circulação na zona do miolo. Onde João Neves é o elemento determinante e com mais uma ressalva a seu favor: é altamente louvável que ganhe tantas bolas divididas, ainda por cima quando o fator físico (aparentemente) não é o seu forte; mas a questão é que tal situação não pode durar sempre e o Benfica tem de ter novas soluções. Até porque, um dia destes, o jovem craque também rebenta. E isto já para não se falar das suas responsabilidades ao nível da primeira fase de construção, tarefa que desempenha com competência mas que está ser repetida talvez com demasiada frequência. E frequência a mais significa antídoto rápido. Adversários esfregam os olhos de satisfação.

Se o Benfica recua estrategicamente o seu bloco com o intuito de não se desequilibrar quando perde a bola – até porque a linha ofensiva é pouco propensa ao recuo rápido/transição defensiva – também há outras dependências individuais que se salientam: a criação de linhas que Rafa oferece, sobretudo no desmembramento e desposicionamento do adversário, e o facto de Di Maria ser um craque de alto nível. Sempre que a bola lhe chega aos pés, todo o mundo encarnado fica mais colorido. E o problema quase que se resolvia ao cair do pano, com uma bomba a ser parada por uma defesa extraordinária de Dani Figueira.

Por muito que se possa argumentar sobre a pertinência dos reforços, há um novo membro que, neste jogo, mostrou atributos muito interessantes nos poucos minutos em que esteve em campo: Álvaro Carreras. O Benfica bem que precisava de uma refrescadela naquela área específica do campo: desde logo agressividade nos movimentos interiores, pendor ofensivo natural e um “ADN” de lateral de equipa grande que nenhuma adaptação consegue ou conseguirá camuflar, isto apesar dos valorosos esforços de Morato no desempenho daquela posição.

Na linha da frente, não está nem estará encontrado o substituto de Gonçalo Ramos, até porque o mesmo apresenta um conjunto de predicados difíceis de compatibilizar num único elemento. Sobretudo do ponto de vista da reação à perda, onde assegurava desde logo uma coesão que, à partida, prevenia a multiplicação dos adversários rumo à exploração dos pontos fracos dos encarnados. Que não são muitos em face da qualidade individual dos seus intervenientes. Acontece que também não há equipas perfeitas mas o Benfica tem os melhores produtos do mercado. E uma responsabilidade canhão de fazer valer os seus créditos. Sob pena dos milhões serem desperdiçados numa vazia caixa de fruta.

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