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FC Porto: No tempo de Jardel

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: No tempo de Jardel
Liga Portugal

Ninguém atira a toalha ao chão, mas também ninguém é irrealista. Só um milagre permitirá ao FC Porto sagrar-se campeão, isto depois de mais uma partida em que os índices de concentração baixaram consideravelmente nos momentos decisivos. É certo que tal não tem de ser sinónimo de perda de pontos, mas a sorte procura-se. Sempre. E encontra-se mais facilmente quando o compromisso é total durante todos os minutos da partida. Mesmo os que vêm embrulhados no pacote do tempo suplementar. Cada segundo conta.

E o irónico da questão reside no próprio período em que a turbulência aparece: logo agora que o onze estava mais ou menos estável, o que teoricamente indiciaria um crescimento acentuado da equipa. Que é real. Que é verdadeiro. Sobretudo do ponto de vista ofensivo, a potenciação dos corredores através da inclusão de Francisco Conceição (sobretudo) e de Galeno/Iván Jaime, permite que a abrangência de soluções seja maior. Sendo que, ao nível interno, o termo maior é sinónimo de uma maior regularidade na senda de que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Mas o problema está mesmo na densidade da água.

Água mole. É certo que há sempre a obrigação de se separar o excel da vida real, mas os 38 golos apontados pelo FC Porto, à 23ª jornada, refletem que alguma coisa está mal. Por um lado, o espelho de um período obscuro que adveio da necessária reconstrução da equipa no seguimento das saídas de Uribe (expectável) e de Otávio (menos expectável); depois, pela evidente constatação de que há problemas ao nível da finalização. Quem se põe a jeito não se pode queixar, mas diante do Gil Vicente os dragões criaram um autocarro de oportunidades que podia ter resolvido a contenda desde logo: Evanilson (primeira parte), Francisco Conceição e Pepê (segunda metade) tiveram na mão as chaves da partida. E a capacidade de finalização faz parte do jogo. Por muito simplista, por muito treinador de bancada que possa parecer o raciocínio, só uma equipa preparada para marcar golos é que efetivamente os marca. Não há tática que resista: contam os que entram dentro da baliza. Notas artísticas valem zero. Ponto.

Mais uma vez, o FC Porto voltou a entrar algo macio no jogo. E há uma realidade que é constatável: por muito que Nico tenha entrado recentemente na equipa, certo é que a sua capacidade para desenhar linhas de passe através de movimentos sem bola oferece à equipa uma dimensão superior. Que nenhum outro consegue superar ou imitar. Mesmo Eustáquio, com a sua capacidade de romper e de trazer para si quase todas as linhas de passe, é mais inconsequente quando a primeira fase de construção se pretende sem ruídos. Aliás, tal foi evidente na primeira parte através de um aspeto essencial: o recuo estratégico de Pepê, com o intuito de acelerar rapidamente e trazer a bola num ápice para zonas mais altas e mais propensas à criação de perigo.

Há um ponto comum que une Arouca e Barcelos: a saída de Alan Varela ao intervalo. Porque sem o argentino o FC Porto perde a âncora, a referência, à qual todos os demais se acoplam em termos de posicionamento. Ofensivo e defensivo (sobretudo). No segundo tempo, apesar do controlo maciço por parte dos dragões, sentiu-se alguma falta de pressão na dianteira que, em termos práticos, desaguou numa maior exploração da profundidade por parte do Gil Vicente. Sobretudo depois da entrada de Ali Alipour – o avançado iraniano realizou um excelente jogo e esteve nas contas do golo que ditou a igualdade. Repleto de um somatório de pevides de erro que, devidamente somadas, originaram uma tremedeira perfeitamente evitável. Dois pontos deitados fora.

Se João Mário podia ter ocupado outro espaço de forma a queimar a linha de passe e a impedir o cruzamento? Sim, podia. Se Wendell também podia ter tido outro tipo de abordagem – mais assertiva – para impedir ou condicionar o bem-sucedido cabeceamento de Thomas Luciano? Também sim. Sem dúvida. Mas há uma questão ainda mais premente: Diogo Costa podia ter feito melhor. Bem melhor. E permita-se a especulação: o guardião portista parece continuar ligeiramente instável quando o jogo pede bolas bombeadas ao segundo poste. Ou seja, parece ainda não ter eliminado a falha (a culpa não foi só dele, refira-se) que ditou o golo de Marrocos e a consequente eliminação de Portugal do mundial. Em Barcelos, dava tempo para tudo. A bola era de Diogo Costa. Culpas no cartório.

Se, com este resultado e consequente afastamento das contas do título, a redefinição de objetivos passa a ser uma obrigatoriedade? Um quase sim. Conquistar a Taça de Portugal e atingir pelo menos os quartos da Liga dos Campeões não significa nada, mas pode significar um tudo em termos de uma equipa que, valha a verdade, conquistou muita coisa positiva nesta temporada. Desde logo uma competitividade europeia acoplada a uma equipa reconstruída e com uma dinâmica extremamente interessante do meio-campo para a frente. No fundo, voltar à base habitual: evoluções em vez de revoluções. Ajustes e nunca megalomanias. Reajustar a linha defensiva para a tornar mais competitiva. E sólida.

Ou fazer aquilo que o Sporting fez na temporada passada. Sem objetivos de título, foi ver os leões preparem-se de antemão para uma temporada atual em que são os principais candidatos ao título. Para Sérgio Conceição ou para outro treinador, que nenhuma base de trabalho fique destruída por qualquer intempérie. Seja ela eleitoral ou fruto da displicência dos dias. O FC Porto de amanhã tem tudo para começar hoje.

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