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Benfica: Schmidt deve sair no final da época? Sim

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: Schmidt deve sair no final da época? Sim
Gonçalo Flores Semedo / Futebol 365

O jogo valeu apenas três pontos e não é nenhum cataclismo o Benfica ter um dia horrível. Acontece. A questão é que os encarnados dispõem, em termos individuais, da melhor equipa da liga portuguesa e não é admissível apresentarem um desempenho verdadeiramente sofrível num dos jogos mais importantes da temporada. Culpa do treinador? Maioritariamente sim. Roger Schmidt: o tal que, no jogo de banco, fica bem atrás de Amorim e de Conceição.

Mais do que tudo, o jogo diante do FC Porto serviu para se provar - ou para se certificar - que uma equipa do nível do Benfica não pode jogar com laterais adaptados. Porque, mais tarde ou mais cedo, as fissuras relacionadas com a falta de rotina expõem-se. No lance do segundo golo, por exemplo. Em que Evanilson, na sequência de um processo de arrastamento para o lado direito do ataque, atacou propositadamente o espaço de Aursnes para libertar Galeno para a zona central. Porque também, por muito que se queira transformar Morato em lateral, tal não é geneticamente possível. Como tal, o Benfica, por diversas vezes, joga com três centrais sem dar conta disso mesmo, com a estrutura a ficar por sequência completamente desequilibrada. Ou sem pilares, sobretudo quando o adversário é hábil a confundir as marcações. E também quando Francisco Conceição, logo a abrir, saca um astuto amarelo ao resiliente Morato. Que mais não faz porque não pode. Não está no sítio certo. Ou melhor, deveria estar no sítio de um sofrível Otamendi que vai acumulando erros atrás de erros e, ainda assim, mantém a titularidade de uma forma bastante discutível. Em nome de uma mística que já existe em forma de António Silva e João Neves.

O lance do terceiro dos dragões é também elucidativo das debilidades das águias. Sobretudo na impreparação em responderem ao que não estava dentro da caixa do plano de jogo: Wendell na zona de finalização ou, por outras palavras, um a mais para os dragões sem a devida cobertura por parte dos defesas encarnados, que não estavam a contar com a movimentação do lateral brasileiro para aquela zona. Afinal quem o marca? Na realidade, a goleada do FC Porto resultou de um jogo de sentido único e de uma forte pisadela a um modelo estanque que não evoluiu após a saída de Enzo Fernandez para o Chelsea.

Se o jogo diante do Sporting revelou a fraqueza do Benfica em responder aos duelos individuais, frente ao FC Porto ficou latente outro desígnio: é certo que João Neves recua para auxiliar o processo de construção e depois, por algum passe de mágica (qualidade individual), a bola lá chegará aos pés de Di Maria que fará o resto, ou então Rafa acelera e a coisa compõe-se. Só que o passe de mágica não acontece e, condicionando-se todas as linhas de saída a João Neves, o Benfica fica sem escoamento possível e à mercê de uma equipa que, para além de ter afinado os procedimentos em relação às faltas, está madura no que à recuperação em zona alta diz respeito. E o FC Porto deu os espaços que quis ao adversário: fosse em proporcionar crateras premeditadas a João Mário – que não é rápido – ou então a fechar as linhas a Kokcu (curtas e em profundidade), tudo foi estudado ao pormenor. E aqui reside o ponto nevrálgico de todo o universo Benfica. A ferida saliente.

Porque a vitória adveio, sobretudo, de um fator essencial: a previsibilidade. O FC Porto adivinhou tudo aquilo que Schmidt ia fazer porque, na realidade, o técnico alemão pouco ou nada surpreende em termos de estratégia de jogo. Sem plasticidade. Porque, valha a verdade, mesmo um processo mais anárquico mas menos previsível poderia ter dado melhor resultado em face da qualidade individual dos intervenientes de que o Benfica dispõe. Inclusive no fator do desequilíbrio puro, o Benfica tem outras armas – Neres, Rollheiser e Gouveia – para não estar tão dependente de um jogador de top – Di Maria – que é humano e não pode levar a equipa às costas, sobretudo quando percebe que a equipa tem um alcance muito superior.

E a questão da continuidade do treinador afina por esse prisma: construção, reconstrução e desenvolvimento da equipa. E a eventual saída responde à questão essencial: se a equipa está melhor do que aquilo que estava no início da temporada. Ou então se o técnico teve a habilidade necessária para colar os cacos que se formaram após a tal saída de Enzo Fernandez? E a resposta é claramente não. Por isso, Schmidt deve sair no final da temporada. Outra decisão será sempre um escusado mergulho na insensatez, até porque o mercado proporciona opções bem mais consensuais.

Fica bem a Rui Costa pedir desculpa pela exibição até porque, desta vez, nem o mais fanático dos benfiquistas consegue encontrar ponta por onde se consiga pegar. Mas o problema é mais obtuso: os encarnados correm o sério risco de não serem campeões dentro de um contexto altamente favorável. Se a derrota diante do FC Porto deixa mossas a montante? Claro que sim. Para além de poder acontecer o que aconteceu na temporada passada – plano de jogo do FC Porto foi replicado por demais adversários (Inter à cabeça) – a equipa teve um abalo emocional significativo porque, diante do grande rival, não se limitou a perder. Roçou a vulgaridade. E, na reta final de todas as decisões, ir ao fundo do poço é sempre um revés significativo.

Se a saída de Schmidt se proporcionar – passo previsível e certo – o Benfica sempre disporá de uma mais-valia essencial: a inequívoca qualidade dos seus quadros. Que servirá de base de trabalho a outro treinador. Algo que não acontecerá quer no Sporting quer no FC Porto: quem eventualmente vier apanhará sempre um comboio em andamento. Com rotinas e processos assimilados. Até porque, mesmo o mais fervoroso defensor do técnico alemão, não consegue encontrar argumentos nesta altura. Saída? Sim. Sem dúvida. E rápida.

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