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Benfica: Chaves e Marítimo

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: Chaves e Marítimo
Futebol 365

Há cerca de um ano a esta parte, o Benfica usufruía de um almoço glutão. Eram passeios atrás de passeios e, só para dar alguns exemplos, duas goleadas consagradas ao som dos aplausos da bancada.

Sem grandes preocupações em termos de futuro – a equipa era quase sempre a mesma que tinha sido planeada (e bem) desde o início da temporada – o Benfica despachava o Chaves e o Marítimo por cinco, sem se aperceber que todas as fartas refeições também implicam avultadas faturas. Que chegou agora.

Do tempo dos olés ao tempo dos lenços brancos.

Do tempo dos olés ao tempo dos lenços brancos. Justificados. Hoje e agora, os encarnados são vulgarizados por uma equipa da Real Sociedad que só não ganhou por mais por alguma falta de astúcia no momento da finalização. Afinal de contas, qual o verdadeiro contexto de uma equipa que, no espaço de um ano, pontificava perante Juventus e PSG e hoje tem zero pontos num grupo da Liga dos Campeões perfeitamente ao seu alcance?

O curioso é que a resposta a esta questão é dada por Schmidt. Que tem razão em tudo aquilo que diz. O Benfica praticamente não ganha duelos, tem imensas dificuldades nas segundas bolas e apresenta também debilidades quando a equipa contrária pressiona e é necessário sair da zona de pressão de forma jogável.

"Schmidt tem razão em tudo aquilo que diz"

Na segunda parte, foi ver Rafa a usar a sua velocidade para compensar em termos de transição defensiva, impedindo que a mesma ficasse ainda mais vulnerável ao adversário. Só para dar exemplo berrante.

Também Schmidt tem razão quando refere que os jogadores ainda não se adaptaram a novos desenhos táticos. Referindo-se a Arthur Cabral, que estava habituado a cruzamentos sucessivos dos extremos e agora não é bem assim.

Do outro lado da moeda: o que é que Schmidt fez, em termos de dinâmicas coletivas, para proporcionar situações mais cómodas aos jogadores que chegaram?

Sim, porque é verdade que o jogador tem de se adaptar ao treinador mas também é verdade, sobretudo em algumas fases, que o treinador tem de engolir alguns sapos para, de forma momentânea, adaptar o seu pensamento às virtudes dos seus jogadores – ainda por cima quando eles têm qualidade indiscutível.

E também sim, porque tantas vezes se menciona a famosa dupla do meio-campo do Benfica. E a questão não é ser composta por este ou por aquele.

O cerne da discussão está no facto de não haver trio, quarteto, ou seja o que for que não seja dupla. Fala-se de Musa e dos seus “ous”. Ou Arthur Cabral ou Tengstedt. Ou Gonçalo Guedes. Mas alguém consegue imaginar uma linha ofensiva do Benfica composta por mais do que um jogador?

E, para ir mais longe, alguém consegue imaginar o Benfica a jogar com três centrais, sendo que este ano até emprestou Lucas Veríssimo ao Corinthians, que se calhar agora dava um jeito tremendo?

E João Mário, porque tem tido uma utilização tão intermitente - ele que consegue pensar um segundo antes que todos os outros e, para além disso, apresenta desempenho em diferentes zonas do miolo, atributo que foi determinante no título da temporada passada? Mas há mais histórias para contar. Com curiosos pontos de análise?

"Não é compreensível é que os jogadores que chegaram praticamente não têm pontos em comum com aqueles que partiram"

É que no próximo capítulo também Schmidt tem razão dos pés à cabeça. O problema não é individual. É coletivo. Sem dúvida. E também é compreensível que a equipa fique mais débil após as saídas de Enzo (ainda), Grimaldo e Gonçalo Ramos. O que não é compreensível é que os jogadores que chegaram praticamente não têm pontos em comum com aqueles que partiram.

Se, na dianteira, a pressão alta quase que terminou, não é possível pedir-se a Jurasek ou Bernat para terem a mesma qualidade no ataque em posse que Grimaldo apresentava. Ou a Kokcu, que até tem muita qualidade, para ter o mesmo desempenho sem bola que Enzo tinha (isto para não falar da muito maior versatilidade do argentino – início da fase de construção e aparecimento rápido em zonas de finalização).

Porque até por aqui se volta ao mesmo. O mundo do Benfica gira muito (este ano Schmidt roda) mas acontece que as coisas não saem do sítio. 360 graus. O que é que Schmidt fez de antemão para prevenir as saídas das tais joias e tornar a equipa mais forte noutros setores? Disfarçar pontos fracos através da criação de pontos fortes noutras zonas do terreno? Pouco ou nada. A fatura chegou.

Porque o Benfica não pode viver de variações de flanco de Neres (insípido a defender mas ainda assim luminoso na altura de criar desequilíbrio), das arrancadas de Rafa ou das desmarcações de João Neves para compensar falta de agressividade nos corredores.

Ou das alterações realizadas na segunda parte, que destacaram ainda assim a presença dos alas e causaram algumas dificuldades à Real Sociedad. Que marcou o golo da vitória num lance ilustrativo: saída tranquila da zona de pressão pelo corredor, variação de flanco sem qualquer incómodo, situação de um contra um com desequilíbrio e passe rápido para a zona central. Com o Benfica a não importunar. Ou sequer tocar na bola no processo de construção.

Se há soluções para alterar este estado atual de coisas? Planificar dentro da corrida é sempre mais complicado mas a matéria-prima que sobra ainda dá algumas garantias. Sobretudo no ataque. Se Tiago Gouveia foi dos poucos que perceberam a necessidade de se receber e agir de frente para o jogo, há ainda dois jogadores hábeis em ocupar as três posições da frente com eficácia: Gonçalo Guedes e um avançado norueguês – Tengstedt – que se fartou de criar oportunidades diante do Estoril e resolveu frente ao Estrela. Provavelmente a opção mais credível para resolver o problema da linha da frente já de imediato.

"O homem tem razão em tudo. Até quando diz, por piada, que os jogos frente ao FC Porto foram os mais importantes"

O homem tem razão em tudo. Até quando diz, por piada, que os jogos frente ao FC Porto foram os mais importantes. Para galvanizar a malta, e de uma forma não censurável. Correta e inteligente. Porque ganhar ao rival é sempre diferente, e não deixaram de ser vitórias.

A questão é que o trunfo emocional foi utilizado: não se pode tapar o sol com a peneira, não se pode utilizar sempre o FC Porto como vitamina suplementar. Há problemas para resolver. Sim, há. E ajudava que Schmidt tivesse a mesma perspicácia na terapêutica que tem no comentário. No diagnóstico. Onde acerta em tudo.

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