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Braga: Guarda as tuas lágrimas para outro dia

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Braga: Guarda as tuas lágrimas para outro dia
Futebol 365

Prestação do Braga na Liga dos Campeões? Excelente. Nada a dizer. A fava saiu aos arsenalistas e, tal como era expectável, no grupo C formou-se um bloco duplo: os superiores Real Madrid e Nápoles, que garantiram a qualificação de uma forma natural. E uma “segunda linha” composta por Braga e Union Berlin, que lutaram pela vaga no play-off da Liga Europa. Era este o contexto na altura do sorteio. Que não enganou.

E o maior elogio que se pode fazer aos bracarenses é dizer que, na realidade, não houve qualquer segunda linha. Uma expectativa que se transformou numa positiva ilusão. O Braga mostrou, mesmo com dez, que é francamente superior aos alemães e a obtenção do 3º lugar é, mais do que uma recompensa justa, a clara afirmação de um novo estatuto do Braga na Europa. Que não joga ponto a ponto. Joga. Para vencer. Sempre e diante de qualquer um.

Por isso, há sobretudo uma conclusão ainda mais cintilante. O Braga joga como equipa grande. Já lá vão os tempos da final da Taça de Portugal, em que o primeiro golo do FC Porto não se transformou, do outro lado, em reação furiosa. Hoje, e apesar do resultado ter sido o mesmo, a postura é completamente diferente. Mesmo diante do Nápoles, a ideia de jogo passou por colocar muita gente no meio-campo e na frente e, sobretudo, pressionar alto a primeira fase de construção do adversário. E fazê-lo sem qualquer tipo de receio. Com Moutinho e Zalazar (mais uma vez) a construírem uma pequena sociedade caracterizada pela boa circulação de bola, a equipa espraiou-se num ataque ao monstro fosse pelo meio (em posse), ou fosse pelo envolvimento dos laterais na manobra ofensiva, com consequente libertação dos seus elementos mais propensos ao desequilíbrio – Bruma e Ricardo Horta. Que estiveram perto de marcar.

De facto, a abordagem inicial do técnico foi arrojada e, mais do que um louvável padrão que tem sido apresentado por Artur Jorge, a conclusão pode e deve de ser emocional: o técnico confia nos jogadores e sabe que eles podem voar bem mais alto do aquilo que navegam atualmente. Por isso, há que expô-los ao risco, sem qualquer receio de que o jogo se parta, porque os argumentos de reviravolta existem e podem ser usados numa lógica de que o Braga tem sempre capacidade para dar a volta por cima. Sempre e diante de qualquer um.

E, diante do Nápoles, faltou um jogador determinante. Aquele que mais cresceu nesta temporada como eixo de desequilíbrio (sobretudo em aceleração e drible rápido) e que torna o Braga ainda mais competitivo. Álvaro Djaló. Que, ainda por cima, ganhou faro de golo e aquela confiança extra de solicitar a bola no momento apertado para, de cara levantada, ser ele a assumir a responsabilidade. E levantar a cabeça após a grande penalidade falhada, naquele salto motivacional que o transportou do nível bom para outro estatuto de excelência mais condizente com o seu potencial de craque. E que, por conseguinte, é o principal porta-estandarte de uma imagem do Braga hoje definida por esse novo e destemido percurso.

Se é este o caminho correto? Sim, sem dúvida. Porque o Braga, que possui estruturas adequadas, camadas jovens competentes e uma clara afirmação nacional e europeia, tem condições para dar o passo em frente de que necessita. Errado seria ver-se o Braga refugiado na confortável carapaça que por mérito criou, alcançando repetidamente um quarto lugar na liga que desse para as encomendas. Mais do que adaptar a componente tática à qualidade individual de que dispõe, a abordagem corajosa determina uma imagem e uma forma de estar no jogo que galvaniza, capta adeptos e expõe uma normalidade de campeão: o Braga joga com confiança, sempre olhos nos olhos, e põe-se a jeito da sorte, da vitória e dos títulos. E não há, de momento, ponto de retorno possível.

Seja como for, o desempenho do Braga na presente temporada fica marcado por uma constatação evidente. Existe um calcanhar de Aquiles: a zona defensiva. Com exceção do desempenho do guarda-redes, o Braga ainda sofre muitos golos (20 na liga e 12 na Liga dos Campeões), fruto de algum desequilíbrio que existe na retaguarda. Sobretudo ao nível dos centrais, aliás como foi constatado na Europa. Só para dar alguns exemplos: no primeiro jogo, diante do Nápoles, centrais com responsabilidade em ambos os golos; frente ao Union Berlin, em casa, entrada disparatada de Niakaté que colocou a equipa a jogar com dez; e, agora no último pano, desconcentração fatal do lateral Borja com mau posicionamento de Serdar a originar um golo que, tendo acontecido muito cedo, condicionou de sobremaneira a abordagem inicial prevista.

E tudo numa lógica de sistema. Se a defesa baqueia, também a transição defensiva não é tão qualificada, com os médios a retraírem-se um pouco naquele preciso momento em que até poderiam arriscar mais um bocadinho. Ou então os laterais não sobem tanto, cientes de que serão necessárias cavalgadas à retaguarda para compensar a cratera que foi criada. Se há espaço para melhorar. Sim, sem dúvida. Para os arsenalistas, um dos próximos desafios futuros passa pela recuperação de Niakaté. Que tem imensa qualidade e faz imensa falta ao nível da construção efetiva pelo lado esquerdo do centro da defesa. Agora, não há muito a acrescentar àquilo que Artur Jorge refere: existe um comportamento individual de Niakaté (muito exposto ao risco/imaturidade) que obriga a equipa a um esforço suplementar, algo que coloca tudo em causa. E tal não pode acontecer. E isto num cenário em que Serdar também se pode acrescentar como mais-valia, se não for contaminado pela instabilidade defensiva dos demais.

Tempo de fazer as contas, tempo de levantar a cabeça para a Liga Europa. Onde existe, de forma pragmática, a cortina da possibilidade. Se era utópico ao Braga vencer a Liga dos Campeões, na Liga Europa as coisas podem não ser bem assim. Tudo é possível. Porque estamos diante de uma equipa que não tem medo de enfrentar o Real Madrid com a mesma determinação com que enfrenta os adversários da liga portuguesa. Em Braga, deu-se um salto emocional: e todos ficam a ganhar com o “Bragão”.

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