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FC Porto é do signo Gémeos

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto é do signo Gémeos
Futebol 365

É quase verdade absoluta: equipa que marca três golos no Estádio do Dragão (ou em qualquer outro estádio de dita equipa grande) tem obrigação de vencer o jogo. Isto a não ser que haja qualquer cataclismo contextual que faça com que a normalidade se esvaneça.

Tal como aconteceu naquele dia 13 de dezembro. No entanto, o número que melhor ilustrou o confronto FC Porto – Shakthar Donetsk foi mesmo o doze. Ou, se quisermos mesmo fazer as contas, uma média de seis golos por jogo. Num edifício destes, a escadaria principal tem forma de caracol: em primeiro lugar, o aplauso generalizado pela abundante chuva de golos, que só faz bem à promoção da modalidade; depois, em segundo lugar, a constatação de que existiu um caos no jogo que não personifica o desempenho global de uma equipa do FC Porto que sente algumas dificuldades de finalização (ou vem sentindo) ao nível interno. Duas faces.

Entra no relvado um corpo que serve de análise: o espaço. Os quinze golos apontados pelos dragões na Liga dos Campeões traduzem um perfil mais adaptado ao confronto com os grandes do que uma imagem dominadora definida dentro de portas. Pode alegar-se, e bem, que os jogadores que atualmente fazem parte do plantel do FC Porto não têm no seu “ADN” o domínio e o controlo de jogo instalados no software, mas existe outro fator que complementa a caixa negra do avião: a criatividade. A tal criatividade que é sinónimo de perfume e, mais a montante, que também é sinónimo de rápido desmembramento de defesas muito baixas, sobretudo numa equipa que passa a maior parte do tempo na posição de domínio. Como é, em Portugal, o natural caso do FC Porto.

Daí que, encontrada a fórmula perfeita para sustentar os alicerces (Alan Varela – Eustáquio), cumpre-se agora o desígnio de se encontrarem formas não coletivas para se alvejar a baliza contrária com mais frequência. Na liga interna jogou Iván Jaime e pareceu ter razão de ser: o médio espanhol é o mais clarividente na altura do confronto individual, com capacidade para se tornar decisivo num contexto de liga portuguesa onde o FC Porto entra sempre com a clara obrigação de ganhar.

Refira-se que a entrada de Iván Jaime, e bem, só deve ser pensada depois de ser garantido o equilíbrio mínimo do trapézio. Num desenho onde o regresso dos golos de bola parada (Casa Pia e Shakthar) são excelentes notícias para o burgo, o quadro muda de figura numa Liga dos Campeões onde a obrigação de ganhar se difunde por ambas as partes. Daí o FC Porto, daí Galeno por exemplo, tanto brilharem dentro de uma cápsula coletiva onde a imagem de marca é mesmo uma: pressão alta, forte reação à perda e uma equipa que adora recuperar bolas no último terço do terreno, como foi bom exemplo o que se passou diante do Shakthar.

Os três golos sofridos – mais do que ratificarem a defesa como setor mais débil dos dragões – afinam pelo diapasão do costume. Erros individuais. Distrações. Aquele posicionamento não tão bem feito que faz com que o Shakthar consiga marcar o golo na sequência de um passe longo do guarda-redes, como aconteceu no segundo tento; ou então não se ligar a ficha de que, por muito que o fiscal de linha tenha sido incompetente, o árbitro é soberano e tudo só pode parar ao aviso do apito.

No seu prisma negativo, os erros individuais dos dragões (detalhes) são recorrentes e, logicamente, motivo de toda a preocupação do mundo, até porque o antídoto do discurso parece não estar a resultar; por outro lado, olhando para o cenário com um sorriso nos lábios, percebe-se que existe uma solidez coletiva capaz de ultrapassar toda esta rede de imperfeições, e até com um colorido saldo de quinze golos na Europa: mais de dois por jogo. Que não está ao alcance de qualquer equipa.

Há, também, argumentos que são particulares e que, por conseguinte, se traduzem num arroz de obstáculos para o adversário: desde logo o poderio físico/choque de Evanilson que permitem que o FC Porto não só jogue em apoio de maneira contínua como também tenha a elasticidade suficiente para baixar e procurar a profundidade. Apesar das soluções ofensivas abundarem no banco de suplentes, certo é que a construção da dupla com Taremi confere ao FC Porto uma dinâmica ofensiva muito difícil de igualar: se um (Evanilson) procura a profundidade, o outro (Taremi) recua para a posição de falso médio-ofensivo quase de imediato; ou então Evanilson tende para a faixa e Taremi flutua para o meio, como aconteceu na jogada inaugural, que quase deu golo.

Nunca é saudável viver-se com duas caras mas também não é propriamente suicida. Até porque não há um desvirtuamento de um fator preponderante: a identidade. O FC Porto parece ser do signo Gémeos: duas faces escaladas num único indivíduo, com a aplicação das virtudes no tempo certo a revelar-se como a mais frutífera das armas. É certo que é sempre uma dicotomia, e também é certo que ambos os perfis se podem colidir numa luta do eu interno. Nada é perfeitamente harmonioso mas também não é necessário. Todavia, se medirmos o fosso contextual existente entre competições internas e Liga dos Campeões, parece que tem mesmo de ser desta maneira. E não de outra. Assim se cria um equilíbrio dentro do desequilíbrio o que, no cenário perfeito, resulta em diferentes formas de ver as coisas e os adversários. Só sei que vou por aí.

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