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Benfica: O fantástico mundo dos mais ou menos

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: O fantástico mundo dos mais ou menos
SL Benfica

Quando Roger Schmidt refere que o “Benfica realizou um jogo fantástico” após arrumar o Rangers numa eliminatória que esteve em aberto até ao apito final, das duas uma: ou o técnico ainda não percebeu que está a treinar um grande clube; ou então quis galvanizar os jogadores para o que falta da época. Ambas as opções estão erradas.

O Benfica esteve um bocadinho melhor do que no jogo da primeira mão. Do mediano ao razoável vai uma pequena distância, a menos que tomemos o Benfica como uma equipa do meio da tabela da liga portuguesa. E, aí sim, tudo se exponencia: o mediano passa a bom e o razoável passa a fantástico. Mas a mudança de contexto é de tal forma dolorosa que mesmo os adeptos dos clubes rivais não a subscrevem. O Benfica faz jogos fantásticos, mas nunca contra o Rangers. Que tem de atropelar (leia-se ou então ultrapassar de forma confortável) e nunca ficar pendurado num apuramento “à rasquinha” e refém de três golos repenicados: uma grande penalidade caída do céu; um autogolo fruto da displicência do defesa escocês; e uma transição ofensiva definida num contexto de muita fortuna.

Por isso é que a malta fala. E o facto da malta falar é o maior sinal de respeito que pode ser dado ao Benfica. Que é um clube grande e não pode ser embrulhado neste tipo de discurso. Aliás, tudo estaria errado caso se tomasse a eliminação do Rangers como consequência de uma exibição supersónica. De uma performance fantástica. Por aí não. Nunca.

A segunda hipótese também não convence. Não se pode hiperbolizar e alegar que a exibição foi fantástica com o pretexto de se realimentar a confiança na equipa. Porque ninguém é propriamente parvo. Os jogadores percebem, até de forma clara, que o somatório de valor individual é alto e, no caso, até muito superior aos dos elementos que compõem e fazem a equipa do Rangers. E Schmidt também não está a falar para uma plateia sedenta de autoconfiança: não é por terem perdido por 5 que os jogadores do Benfica entram em parafuso e começam a questionar se são efetivamente bons ou não. Na realidade, o técnico alemão não está a falar para uma plateia de miúdos. Está a falar para um grupo de gente adulta. Ou seja, dizer que a exibição foi fantástica pode ser um passaporte para o planeta do nada: efeito zero no curto-prazo, porque os jogadores entendem e ratificam a sua própria superioridade; e também efeito-zero a médio e longo-prazo isto quando, isso sim, for necessário puxar dos galões e levar o Benfica a multiplicar-se para ultrapassar um tubarão.

É evidente que é sempre melhor cumprir requisitos mínimos do que não os cumprir. Agora, o Benfica passou na Escócia porque, acima de tudo, deu primazia de jogo ao adversário e segurou-se na retaguarda. O que não está mal do ponto de vista minimalista ou, se assim o quisermos, de quem está agarrado às cordas e pretende ultrapassar a eliminatória custe o que custar. Como Schmidt o referiu. E o jogo enveredou também por um diapasão que tem sido característico do técnico: a correção ao intervalo. Sendo que, mais uma vez, mais vale corrigir a meio do que deixar descambar. E, num segundo “sendo”, se calhar também mais vale apresentar o carro aprumadinho desde o início de jogo, não vá não se ir a tempo de retificar. Como aconteceu em Guimarães.

Em concreto, a titularidade de Marcos Leonardo. Perdido num espaço que nunca encontrou, foi sempre inexistente quando chamado a finalizar e, ao mesmo tempo, impercetível na altura do condicionamento da construção adversária. Olha-se para Marcos Leonardo e fica-se sem perceber se a sua titularidade adveio de “fezada” pura (este daqui é que vai ser, muito embora nem esteja fisicamente preparado) ou então se foi para se experimentar uma outra opção que não as anteriores – Arthur Cabral e Tengstedt – que não apresentaram todo o ramalhete que o treinador pretende.

Porque Schmidt tem razão quando refere que os seus avançados não têm sido tão consistentes. É uma verdade. Mas a questão é outra. Mais pertinente. Mas o que é que Schmidt faz para garantir que os seus avançados sejam consistentes? Porque a consistência faz-se com boas e más exibições, dentro de um quadro em que ninguém é robótico nem fiável a cem por cento. Todos têm altos e baixos. E, no final de um determinado segmento, fazem-se as contas e tomam-se opções. Mantém-se ou retira-se. Ou então pelas características do próprio adversário, algo que aqui neste contexto é residual: porque o Benfica é superior a quase todos os adversários que lhe surgem. Daí ser ainda mais discutível.

É fácil criticar-se Di Maria pelas perdas de bola mas há que perceber a hercúlea tarefa do argentino. Com a equipa aflita, nada como passar ao “triplista” de serviço. Que atire de três pontos e resolva, nem que seja com uma assistência caída do seu indiscutível génio. Se não resultar Rafa acelera, conduz como ninguém e o desequilíbrio há de brotar da terra. De qualquer maneira. Estamos nos quartos e “o resto é conversa” é um bom argumento. Mas também se pode dizer que Toulouse e Rangers chegaram ao 180º minuto da eliminatória a um golo de empatarem as respetivas contendas. Acontece que não se pode comparar um ferrari a um corsa. Nem a um twingo. Não se pode negar a vitória do ferrari. Mas refuta-se a estranha história do ferrari sorridente.

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