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Benfica: Protótipo pífio de Maradona

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Benfica: Protótipo pífio de Maradona
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A entrevista de Kokcu caiu mal. É certo que falar de fora é sempre fácil, mas, à vista de quem está longe, o jogador turco parece não ter razão nenhuma. E, no que concerne ao timing em que a bomba foi lançada, aí não há contexto nenhum que blinde: numa altura em que o Benfica está de garras afiadas para a Liga e Taça de Portugal, mandar um torpedo deste calibre é improcedente e, acima de tudo, egoísta.

Chegou como a contratação mais cara de sempre do futebol português e, mais que não fosse, tal representou um enorme depósito de confiança nas suas capacidades. E a temporada começou com uma máxima tática até altamente censurável: era Kokcu e “o outro”, sendo que o “não-Kokcu” tinha obrigatoriamente de se adaptar às características do titularíssimo turco, rei absoluto do meio-campo encarnado.

Se Kokcu não cumpriu? Não é verdade. Cumpriu porque tem muita qualidade: tem definição, qualidade de passe, visão de jogo e é, sem dúvida, um aporte de qualidade quer ao Benfica quer à liga portuguesa. Se explodiu como um putativo MVP? Nem por sombras. E as explicações são duas: em primeiro lugar o quadro estanque e cristalizado da equipa que, valha a verdade, não potencia quase ninguém; e, em segundo lugar, a explosão previsível de João Neves. Que também tem de ser titular e as suas características são muito semelhantes às de Kokcu. Dois galos para dois poleiros e aquela evidência empírica: às vezes mais vale dar um passo atrás e ter diferente do que ter o excecionalmente igual em doses repetidas.

Ora, se quisermos quebrar os dois poleiros e a linha que os sustenta, verifica-se que o rendimento de João Neves tem sido claramente superior, sobretudo em termos de regularidade. Daí ter de ser o turco a adaptar-se ou, então, a assumir-se como alternativa válida que não é compaginável com o balúrdio que custou e com o seu glorioso passado recente na liga holandesa.

Criou-se, por isso, um problema escusado. Porque Kokcu nunca pode ser visto como o substituto de Enzo Fernandez e como alguém que elimina o fantasma do argentino de uma vez por todas. Com 25 milhões de euros (fora os bónus) teria sido mais benéfico ao Benfica contratar dois ou três jogadores diferentes entre si que, para além de qualidade ofensiva, garantissem aquela robustez nos duelos que fez Sporting e FC Porto amealharem muitos pontos nas contas dos últimos jogos. Porque uma coisa é fazer o que fez o Sporting, que andou meia temporada a preparar a equipa para a chegada de Gyokeres; outra coisa é fazer-se uma troca por troca, como se Enzo pudesse ser clonado noutro ponto do mundo e imediatamente transplantado por o corpo do meio-campo do Benfica. Utopia.

Mas o que fica realmente mal a Kokcu é dizer que o técnico o prende em demasia a tarefas defensivas. Aqui a crítica deve ser mais estridente: como diria Jorge Jesus, “pensas que és algum Maradona?” Porque no futebol moderno todos defendem. Veja-se, de relance, o que acontece com Evanilson e Pepê no FC Porto ou mesmo com Pedro Gonçalves no Sporting. Já para não falar de João Neves. É que Kokcu, sim senhor, é muito bom, mas daí até motivar um tratamento tático de excelência vai uma longa distância em termos de valia individual. Que moral tens tu?

As declarações são, sobretudo, criticáveis porque se subentende que o jogador busca rapidamente outras paragens. O que não é, de todo, a melhor opção estratégica. Em primeiro lugar pelo tal respeito em relação a um clube que bateu os limites orçamentais para o contratar. Mas, sobretudo, pela posição periclitante em que se encontra Roger Schmidt. Não teria sido mais inteligente fechar-se em copas, deixar o resto da temporada fluir e serenamente aguardar pela previsível chegada de um novo técnico? Até porque o plantel do Benfica é bastante bom e o refrescamento de ideias poderá promover a potenciação de alguns quadros mais adormecidos ou subaproveitados – como é o caso de Kokcu. E, convém dizê-lo, mesmo num cenário em que o ferrari só atinge os 120, certo é que o Benfica não está assim tão mal e tem alta probabilidade de participar na Liga dos Campeões da próxima temporada. Fora de tempo.

Agora, a parte emocional também entra em cena. A desconfiança dos colegas, da massa adepta, da direção. Sobretudo quando a bomba não foi lançada cara a cara: foi lançada a quilómetros de distância sem aviso prévio. E se Kokcu não é Maradona também não é CR7: não há entrevista possível que lhe dê automaticamente um novo rumo à carreira. De forma intempestiva, ou então claramente mal aconselhado, certo é que o turco dá um verdadeiro tiro no pé quando, a montante, o cenário lhe podia ser até bastante favorável. Agora, das duas uma: ou o Benfica aproveita a pausa das seleções para sacar um contentor de paninhos quentes e abafa a situação; ou então retira a “maçã podre” de vez e vai ter de vender por um preço bastante inferior àquele que custou. E, por aí, ninguém ficará a ganhar. Nem clube nem jogador.

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