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FC Porto: Esse perfume me persegue

Artigo de opinião de Gil Nunes.

FC Porto: Esse perfume me persegue
Futebol 365

Mais do que ganhar ao Moreirense por números robustos – e convém não esquecer que os cónegos vão em 6º lugar – a vitória dos portistas teve um cariz emocional: afinal os golos eram (e continuam a ser) escassos, mas o que é certo é que o dragão também sabe golear e, por conseguinte, apresentar um pendor ofensivo capaz de ferir os adversários. E não há muitas equipas que consigam dar cinco ao Moreirense. Mérito e, mais importante do que o mérito, uma constatação de continuidade.

Porque os sinais já vêm de trás: o FC Porto só marcou por uma vez a Boavista e Chaves mas ambos os golos resultaram de um tremendo envolvimento coletivo. Confiança restabelecida, a torneira passa a dar água com frequência e as coisas tendem a repetir-se num futuro próximo. Mas não em face da nova abordagem tática – o tempo de “equipa que ganha não se mexe” já lá vai – mas mais na sequência da consolidação de dinâmicas coletivas que fazem com que a defesa esteja mais segura (exemplo do jogo diante do Braga) e, por sistema, o ataque também seja mais produtivo. Ou vice-versa. Sendo que o vice-versa, para quem pensa na equipa como um todo, pouco ou nada interessa.

Há certos erros a evitar, sobretudo do ponto de vista da análise. Em primeiro lugar, não é pelo facto de Taremi não estar presente que a situação passou a estar melhor. Ou passaria a estar pior. Não há como o iraniano em termos de jogo entrelinhas e exploração efetiva de zonas de criação, pelo que a nuvem da relação causa-efeito se dissipa num ápice. Ou seja, aquela sensação verosímil de que com Taremi no onze as coisas teriam acontecido mais ou menos da mesma forma. Ou então uma segunda reflexão: a equipa (modelo + nuances) vai ter de mudar diante de adversários mais poderosos. Recuperando-se a face de ouro de um FC Porto duplo quando se vê ao espelho: de Liga dos Campeões. De jogos frente a equipas grandes. Onde o espaço abunda e onde os melhores intervenientes (Galeno à cabeça) conseguem ter o espaço necessário para protagonizarem o desequilíbrio.

E os tempos atuais são também tempos de maior perfume. Com Nico González de fora, a aposta em Eustáquio – que, em face das rotinas previamente consolidadas - foi natural, mas também não estranhou a sua troca por Iván Jaime. O FC Porto, sobretudo num novo desenho de 4x2x3x1, necessita de um médio dotado de maior capacidade individual, que consiga vencer situações de 1x1 num cenário em que a equipa, em virtude do crescimento de Alan Varela, não fica tão exposta do ponto de vista defensivo. A grande verdade. Talvez o maior dos segredos.

Até porque Varela tem, positivamente, mais predicados do que aqueles que são apanágio de um médio-defensivo. Sérgio Conceição estica o novelo: se tens controlo de bola, bom passe de longo e ainda por cima capacidade de tiro, seria um desperdício seres apenas um tampão da linha defensiva. Pretende-se algo mais. Porque, pisando as zonas certas, Varela pode perfeitamente pressionar mais à frente e recuperar a bola em zonas mais avançadas. Para tal é preciso treino, maturidade ao nível da interpretação de jogo e a confiança progressiva que advém quer dos jogos quer do facto do FC Porto ter ficado (leia-se insistido) até ao limite para o contratar ao Boca Juniors. Na realidade, olhando-se de escalpe para as características do seu jogo, percebe-se que Varela encaixa naquilo que se pretende e num desenho de FC Porto que, na segunda volta, será bem mais eficiente do que na primeira.

Por falar em novelos esticados, a performance de Wendell resulta também de um pensamento sequenciado que aumenta o alcance do golo. Se és muito bom na condução em progressão, então seria residual colocar-te apenas no corredor, quando o normal neste tipo de situações é que o jogador seja médio e não lateral. Então porque não? E ainda por cima quando a capacidade técnica vem pincelada com exploração hábil de zonas de finalização. Pois quem, no passado, apontou golos com tanta classe como aqueles diante de Marítimo e Moreirense (primeira volta), também pode repetir a dose de forma mais frequente. Em prol da equipa. É verdade que as competências defensivas de Wendell ainda necessitam de ser aprimoradas (um passinho em frente e Di Maria não teria marcado) mas o perfil da liga portuguesa faz com que a sua utilidade seja máxima.

O lateral brasileiro enquadra-se numa linha defensiva que teve a melhor notícia dos últimos tempos: terceiro jogo consecutivo sem sofrer golos. É lógico que o reforço da zona central continua a ser uma prioridade, até porque David Carmo saiu e Pepe é sempre um elemento indispensável mas propenso a lesões. E também convém referir que a defesa só está mais sólida porque o meio-campo e a linha avançada apresentam uma capacidade de resposta superior, capaz de bloquear os perigos antes deles existirem. Ou então torná-los supérfluos e pífios quando finalmente desaguam na foz da real zona de perigo.

E há males que vêm por bem. A eliminação da “final four” da Taça da Liga nunca é uma boa notícia num clube que vive de títulos mas, por outro lado, gera-se o tempo necessário para a continuação do trabalho de laboratório. Onde se tem criado uma equipa mais robusta jogo após jogo. Se os rivais vão competir, tanto melhor. Em Olival nos mantemos a fazer o trabalho de casa e a consolidar toda uma nova dinâmica que, ao que tudo indica, está em trajetória ascendente. E, caso não aconteça nenhum imponderável, sem retorno previsível. À Dragão.

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