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Sporting: A frincha e o Vice-Rei Trincão

Artigo de opinião de Gil Nunes.

Sporting: A frincha e o Vice-Rei Trincão
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Liga como objetivo, sendo que tudo o resto é importante mas naturalmente se encolhe perante a real prioridade chamada conquista do título. Por isso, a vitória diante do Arouca começou três dias antes, quando Rúben Amorim fez descansar (leia-se também acautelou) Pedro Gonçalves, Hujlmand ou Gyokeres diante da Atalanta. Porque a fadiga dá ou pode dar de si e, nesta altura, há que filtrar todos os resíduos. Todos as minudências que possam deturpar a engrenagem em todo o seu minucioso processo. Por outras palavras, o leão não se coloca a jeito de nenhum imponderável. Todos os milímetros são analisados pela máquina.

Esta temporada é mesmo pela frincha. Que Amorim topou logo no início da liga. Ora, se o FC Porto vai demorar até se recompor e se reconstruir após as saídas de Otávio e de Uribe e o Benfica não tem treinador capaz de potenciar em pleno o manancial de qualidade de que dispõe, é para fazer como há três épocas. Toca a acelerar. Não perder pontos desnecessários. E, sobretudo, vista escanada e prudência militar em relação a adversários dotados de características especiais, como é o caso do Arouca e do tridente espanhol Cristo – Mujica – Jason que, entre outros alvos, já feriu de forma feroz as aspirações do FC Porto rumo ao título.

Analisar a frincha implica uma rebobinagem da cassete. E ressalvar o maior dos méritos de Rúben Amorim. Que pura e simplesmente se manteve firme aos seus princípios de jogo, não obstante na temporada passada estar em quarto lugar e fora das restantes competições. Em vez de chorar e lamentar o leite derramado, Amorim optou por fazer dos maus momentos uma dádiva: se o destino nos colocou em quarto, então é para termos mais tempo para nos prepararmos para aquilo que se segue. E pré-campeão não vacila. Segue em frente. Planeia e vai buscar a diferenciada peça que falta: nem que seja encontrá-la nos confins da Championship.

Porque, em termos de recrutamento, a palavra de ordem tem sido apenas uma: garimpagem. Ou prospeção garimpada. É preciso “olho clínico” para se descortinar Gyokeres, Hjulmand ou mesmo Franco Israel no meio de uma multidão de potenciais craques e de outros (a sua maioria) que não o são. Franco Israel. Que tinha uma vintena de jogos como sénior e, sobretudo na posição de guarda-redes, pouca ou nenhuma tarimba para o que estava para vir. A questão é que o uruguaio tem correspondido: monumental defesa na primeira parte a impedir o golo de Sylla. E é claro que Rúben Amorim faz jus a toda a sua inata vocação para a área da comunicação: só não sofremos golos por causa da grande exibição do guarda-redes. Que precisa de carinho e de confiança para agarrar o lugar e ser suficientemente estável para o que falta de uma liga que, nesta altura, o Sporting só perde se quiser. Principal candidato ao título. Coletivo principal candidato ao título.

Em Arouca, voltou a despontar um jogador que, no patamar logo a seguir de Gyokeres, tem sido uma das confirmações da temporada: Francisco Trincão. Que, na realidade, perdeu o medo de errar e ganhou as asas necessárias para se consolidar na equipa e, inclusive, sonhar com um legítimo regresso à seleção nacional. Técnica aliada à componente coletiva. Como ficou patente no lance do primeiro golo: arrastamento da defesa contrária para o flanco esquerdo, com a linha defensiva a não se equilibrar e a permitir o espaço necessário para a decisiva entrada de Matheus Reis. Uma movimentação produzida em laboratório que desaguou no golo de Gyokeres e que teve outro interveniente fulcral: Pedro Gonçalves. Discretíssimo, mas preponderante movimento interior com o intuito de arrastar a marcação e, também, de “limpar” a zona para onde iria sair o destino do bem sucedido cruzamento.

Para o Sporting, defender baixo não é sinal de encolhimento. Mas pode ser sinal de exploração maciça da profundidade, que é justificável quando se tem um portento físico como Gyokeres na dianteira. E, num segundo eixo justificável, há que ter em conta o tal tridente arouquense que é do melhor que há na liga, sobretudo quando se justa um Sylla que é determinante na potenciação das dinâmicas ofensivas. Defender para avançar. Cautela para provocar a hecatombe no tempo certo. À semelhança do que tem acontecido em pretéritas jornadas, os leões voltaram a bloquear os adversários numa redoma e a permitir escassíssimas oportunidades de golo. No caso do Arouca, no entanto, o escassíssimo tem de ser sinónimo de alguma coisa, dado que a qualidade bruta mesmo no meio do mais inexpugnável dos casulos.

Para além dos três pontos e da afirmativa máxima de não se permitir um milímetro que seja nas contas internas, há outro fator decisivo a ter em conta: o fator emocional. O fator catapulta para o resto que falta. Passar em Arouca é ultrapassar uma das melhores equipas da segunda volta e desnortear um coletivo consolidado, forte e muito hábil em todos os processos dr jogo. Um Cabo Bojador que ficou para trás. Com o tremendo mérito de um comandante que antecipou a tempestade e a soube contornar em velocidade de cruzeiro. Os bons comandantes fazem-se em terra. Os excecionais comandantes, para além de se fazerem em terra, também motivam os bons marinheiros. Candeia que vai à frente alumia duas vezes. O leão não facilita. Não facilita nada.

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